Resenha de Condenada – Chuck Palahniuk

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Filha de uma estrela de cinema e um bilionário, Madison Spencer vive em um internato, na Suíça, enquanto seus pais adotam mais e mais órfãos, em busca da atenção da mídia. No entanto, tudo isso acaba para Maddy quando, aos 13 anos, ela morre de overdose de maconha e acorda no Inferno, onde acaba fazendo parte de um grupo com um “exemplar” de cada estereótipo – a líder de torcida, um atleta, um nerd e um punk. Maddy não sabe muito por que foi parar na terra de Satã, mas está disposta a fazer desta experiência a melhor possível.

Em Clube da Luta, Chuck Palahniuk já deixa bem claro que é adepto das ironias, do sarcasmo e do humor ácido. Por isso, assim que comecei a ler Condenada, eu já esperava por boas doses destes ingredientes e não me decepcionei. Na obra, o autor é capaz de combinar todas essas características à ingenuidade de uma garota de 13 anos, sem que uma coisa anule a outra. Pelo contrário: a inocência e confusão estampadas nas palavras de Maddy apenas tornam a ironia e o sarcasmo ainda mais poderosos – e divertidos também, há que se admitir.

No Inferno, seria estúpido conceber que as pessoas tenham grandes padrões de honestidade. O mesmo vale para a Terra.

O que faz da nossa vida um Inferno é a nossa expectativa em viver para sempre.

Condenada é narrado em primeira pessoa e conta dois momentos da história de Maddy: o presente, com sua aventura no inferno, e o passado, que a protagonista revisita em busca de razões para ter ido para a terra de Satã e serve para contextualizar a trama para o leitor. Na obra, Chuck Palahniuk também caprichou nas referências, que vão desde a cultura pop, com Clube dos Cinco, Kurt Cobain e Janis Joplin, até os clássicos, com O Morro dos Ventos Uivantes Jane Eyre.

Se os vivos são assombrados pelos mortos, os mortos são assombrados pelos próprios erros.

O que faz a Terra se parece com o Inferno é a expectativa de que se pareça com o Paraíso.

Como não poderia ser diferente, o senso crítico de Chuck Palahniuk se destaca também em Condenada, com o comportamento das celebridades e o que é considerado valioso pela sociedade em geral como alguns dos alvos. Assuntos pertinentes, como o machismo, o preconceito e a homossexualidade, também são abordados pelo autor, que, assim como em Clube da Luta, reflete bastante sobre a hipocrisia e a alienação.

Vou pro inferno? Rá! É impressionante como não ter nada a perder faz aumentar sua autoconfiança.

Li que Condenada foi uma forma que Chuck Palahniuk encontrou para lidar com a morte da mãe, em 2009, e, talvez por isso, ele enfatize a “vida após a morte” – ainda que a sete palmos do chão – e burocratize o inferno, em uma tentativa de torná-lo menos assustador e mais real. E, embora Madison e o protagonista anônimo de Clube da Luta pareçam completamente diferentes à primeira vista, a verdade é que eles têm muito em comum: ambos lutam contra a letargia, de forma libertadora, mas inevitavelmente esperançosa, e permitem a própria destruição para que tenham a chance de se reconstruir.

Título original: Damned
Editora: Leya
Volume seguinte: Maldita
Autor: Chuck Palahniuk
Publicação original: 2011

8 comments

  1. Adorei a resenha! Fabulosa como sempre! A história parece mesmo incrível! Sempre ficamos curiosos para saber como é a vida após a morte (ainda mais no inferno! Rs) mesmo que seja uma ficção é sempre legal esse tipo de enredo. Eu gosto.

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