Resenha de Cartas para minha avó – Djamila Ribeiro

Desde sempre, sou apaixonada por cartas. E já há algum tempo, me tornei admiradora do trabalho de Djamila Ribeiro. Por isso, quando Cartas para minha avó foi lançado, soube que precisava fazer essa leitura. E mesmo sabendo que seria uma experiência intensa, ainda fui surpreendida pela carga emocional que o livro carrega.

Cartas para minha avó reúne relatos extremamente pessoais, que viajam pela trajetória de Djamila desde a infância até os dias de hoje. A leitura foi um misto de sensações e, em muitos trechos, só as lágrimas foram capazes de expressar o que eu sentia. Em alguns momentos, angústia e pesar por saber que sou parte de um sistema opressor. Mas, em outros, a redentora certeza de que nossas ações podem, sim, mudar o (nosso) mundo.

Djamila é conhecida por abordar principalmente questões raciais e de gênero, mas é claro que não se deve esperar que a filósofa e escritora fale apenas sobre tais temas – como ela mesma escreveu, “hoje eu só queria tomar uma cerveja”. No entanto, admito que gostei muito de como, por meio das cartas, a autora mostrou a forma como o racismo e o machismo fizeram parte de seu contexto familiar e, portanto, impactaram sua vida desde sempre. Ela ainda fala sobre luto, ancestralidade, maternidade e vida profissional. Mas, acima de tudo, fala sobre o amor.

Afinal, as cartas podem ser destinadas a avó de Djamila, mas talvez não seja exagero dizer que é uma espécie de tributo a todas nós – as mulheres que somos e as mulheres que contribuíram para que nos tornássemos quem nos tornamos. As mulheres que, muitas vezes sem saber, nos fortaleceram e ajudaram a abrir portas por onde, antes, só podíamos espiar.

E antes de terminar, gostaria de compartilhar alguns dos muitos trechos que marquei em Cartas para minha avó:

“Restituir a humanidade também é assumir fragilidades e dores próprias da condição humana. Somos [mulheres negras] subalternizadas ou somos deusas. E pergunto: quando seremos humanas?”

“Preparar para a vida, quando se trata de uma criança negra, é ser brutalizada o bastante para aprender a lidar com a brutalidade do mundo. É um ciclo que se propaga impedindo a gente de ser, somente ser.”

“Mudar a forma como a dor se manifesta não muda o que ela causa.”

“Passamos a vida culpando as mulheres que nos criam, assim como muitas vezes culpei minha mãe, sem olhar para quem nos tira o chão, a casa, as oportunidades.”

“Aqui eu quero cortar as correntes que nos unem pela culpa. Cada uma fez o que sabia fazer. Cada uma fez o que foi possível”.

“Penso que amar é ser suave com a diferença do outro.”

Editora: Companhia das Letras
Autora: Djamila Ribeiro
Publicação original: 2021

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