
Amar ou odiar é quase um detalhe quando se trata de O morro dos ventos uivantes. Isso porque o clássico de Emily Brontë pode causar uma extensa gama de sentimentos – da raiva à comiseração, do choque à resignação. Mas dificilmente irá deixar seu leitor indiferente ou impassível.
O morro dos ventos uivantes conta a história de Catherine Earnshaw e seu irmão adotivo, Heathcliff. Ela, uma garota autêntica e intempestiva. Ele, um menino rústico, cuja capacidade de odiar foi moldada pela crueldade humana. Juntos, porém, Cathy e Heathcliff desenvolvem uma relação única, que nos faz questionar: pode a mesma alma habitar dois corpos diferentes?
Diferente do que muitos leitores imaginam, O morro dos ventos uivantes não narra uma história de amor. Ou, pelo menos, já se trata de um amor que foi transfigurado em obsessão, ressentimento, raiva e vingança. Talvez por isso o clássico divida tanto as opiniões. No entanto, quando enxergamos a obra por sua verdadeira proposta, passamos a compreender o verdadeiro objetivo de Emily Brontë.
A atmosfera gótica criada de O morro dos ventos uivantes é simplesmente impecável! As charnecas do norte da Inglaterra, onde a autora passou os seus 30 anos de vida, foram a inspiração para as paisagens descritas no livro. E é incrível como o cenário, úmido, naturalmente sombrio e inóspito, parece emular os sentimentos que permeiam a história que acompanhamos.
Fiz a leitura na edição comentada da Zahar, que indico bastante. Confesso que não li todas as notas de rodapé, mas recomendo muito a leitura da apresentação da obra. Por meio do texto de Rodrigo Lacerda, conseguimos entender o impacto que O morro dos ventos uivantes provocou no cenário literário em 1847, quando foi lançado, e que persiste até hoje. A acidez e a ironia do texto de Emily Brontë, aliás, foram elementos inesperados e surpresas muito bem-vindas para mim!
No entanto, o que mais gostei na história foram as críticas sociais, que, apesar de serem condizentes com a época, se aplicam também aos dias de hoje, ainda que com adaptações. No fim das contas, a personalidade desprezível e as atitudes condenáveis de Heathcliff foram, de certa forma, produtos das convenções sociais e do preconceito. Nada disso tem o poder de justificar o comportamento do personagem, mas é o contexto que provoca inúmeras reflexões.
Então, sim, amar ou odiar é um detalhe quando se fala sobre O morro dos ventos uivantes. Mas é impossível negar o valor da obra de Emily Brontë.
Título original: Wuthering Heights
Editora: Zahar
Autora: Emily Brontë
Tradução: Adriana Lisboa (romance) Maria Luiza X. de A. Borges (anexos)
Publicação original: 1847