
Claire Wang não esperava se despedir tão cedo de sua vida privilegiada em Xangai, na China. Até que seus pais decidem enviá-la para uma escola na Califórnia, onde ela é hospedada por Dani De La Cruz e sua mãe. Apesar das dificuldades, Claire logo se adapta – afinal, não é tão difícil se acostumar com a liberdade, muito menos com o garoto mais cobiçado da escola convidando-a para sair.
Já Dani não gosta nem um pouco de ter Claire sob o mesmo teto. Mas sabe que, sem o dinheiro do aluguel, será impossível continuar no time de debate da escola e estudar em Yale. A relação das duas se torna cada vez mais difícil conforme as diferenças entre elas se transformam em abismos. No entanto, talvez Claire e Dani tenham mais em comum do que imaginam…
Não é exagero dizer que Caindo de paraquedas é um livro necessário. Entre todos os temas importantes abordados, começamos pela representatividade asiática, que Kelly Yang traz em dobro: com Claire, nascida e criada na China; e também com Dani, que é descendente de filipinos (uma nacionalidade que ainda vemos pouco, tanto em livros, quanto em séries e filmes). E muito embora as culturas em si não sejam exploradas tão diretamente, é possível conhecer um pouco mais sobre os países.
Um dos principais pilares de Caindo de paraquedas são as questões de classe. Afinal, as protagonistas não poderiam viver situações financeiras mais diferentes. E sim, ver a forma como Claire e seus amigos paraquedistas* lidam com o dinheiro pode ser enervante. Mas sabemos que essa é a realidade de muitas pessoas e, além disso, é o que nos leva a refletir sobre os nossos próprios privilégios e também sobre o quanto o dinheiro inevitavelmente leva a mais oportunidades.
Outro tema importantíssimo abordado por Yang é o abuso/assédio sexual. É doloroso acompanhar as situações que se desenrolam, justamente por sabermos que elas vão muito além da ficção. E sofremos não apenas pelo abuso/assédio em si, mas também porque vemos, mais uma vez, o quanto ainda se duvida das vítimas. O quanto elas, muitas vezes, carregam uma culpa que não lhes pertence, simplesmente porque é assim que a sociedade está acostumada a lidar com tais questões.
A lista de temas atuais e pertinentes não acaba aí – Yang ainda fala sobre o padrão de beleza asiática e traz representatividade LGBTQIA+. No entanto, senti que, ao abordar tantos assuntos delicados, Caindo de paraquedas acaba tendo personagens ligeiramente rasos e até um pouco previsíveis. Por outro lado, eles acabam se tornando ferramentas fundamentais para ilustrar situações reais e que devem, cada vez mais, serem discutidas – especialmente entre o público jovem adulto.
Mesmo abordando tantas problemáticas com responsabilidade, Yang foi capaz de combinar a densidade dos temas com certa leveza ao desenvolver a história. E para além de todas as situações dolorosas retratadas, Caindo de paraquedas é um livro que mostra soluções possíveis, através da sororidade e do ato de falar sobre nossos traumas – o que é difícil, mas também pode ser libertador e empoderador.
Título original: Parachutes
Editora: Nacional
Autora: Kelly Yang
Tradução: Ana Beatriz Omuro
Publicação original: 2020
Parceria paga com editora Nacional
Contém gatilhos de abuso/assédio sexual
*São chamados de “paraquedistas” os jovens chineses que vão estudar nos Estados Unidos