
Um casamento que se recusa a chegar ao fim. Um acordo inusitado. E um assassinato.
Os dias de felicidade para Vic e Melinda ficaram para trás. No entanto, a fim de evitar o divórcio e suas complicações, eles estabelecem uma regra: ela pode ter quantos amantes quiser desde que continue oficialmente casada com ele.
O acordo funciona no início, até que Vic começa a se sentir incomodado. Então, em um impulso, ele assume a autoria do assassinato de um dos amantes de Melinda, esperando que isso afaste os futuros “pretendentes” da esposa. Logo, o verdadeiro responsável é revelado. Mas o que parecia ser o fim da história se torna apenas o começo.
Em águas profundas foi uma leitura diferente, porém muito mais interessante, do que eu esperava. Eu pensei se tratar de um thriller, mas me deparei com um suspense para ser lido com calma e nas entrelinhas.
Já adianto que não há muitas chances de gostar ou se identificar com os personagens de Em águas profundas. Acredito que a maioria de nós não concorde e provavelmente nem compreenda suas atitudes. E é aí que entra a genialidade de Patricia Highsmith. A autora nos manipula com maestria, mas não só em relação aos acontecimentos da trama. Talvez em uma alusão à própria dinâmica que existe entre o casal, ela nos desafia a analisar as situações de diversos pontos de vista – ainda que a história seja narrada por Vic, em primeira pessoa.
Então, para além da trama em si, que se revela inteligente e original, o que realmente me fez gostar de Em águas profundas foram as reflexões que a leitura trouxe. Pensei sobre como nós, como sociedade, ainda somos tentados a relativizar as atitudes tóxicas e abusivas de um homem só porque ele é um cidadão de respeito e um bom pai. E também a demonizar uma mulher por algo que muitas pessoas ainda definem como parte da natureza masculina – a traição.
Quando pensamos que Highsmith publicou Em águas profundas em 1957, as críticas que a obra traz se tornam ainda mais contundentes. Afinal, temos aqui uma história que navega pelas profundezas da mente humana, abordando temas como machismo, psicopatia e abuso psicológico por um viés tão tridimensional quanto intrigante.
Título original: Deep water
Editora: Intrínseca
Autora: Patricia Highsmith
Tradutor: Roberto Muggiati
Publicação original: 1957