
Quando deu vida a George Stark, Thad Beaumont não poderia imaginar que estava criando muito mais do que um pseudônimo. E descobriu da pior maneira.
Foi sob a identidade de Stark que Beaumont realmente alcançou o sucesso como escritor. No entanto, quando um jornalista ameaça expor a verdade, ele decide sair na frente e “matar” seu pseudônimo publicamente. A vida segue sem problemas, até que uma série de assassinatos começa a acontecer. E, nas cenas do crime, sempre há um detalhe que leva a Beaumont. Ele jura não ter nada a ver com as mortes, mas será possível ser tão culpado quanto inocente?
E mais uma vez, Stephen King nos envolve em uma história mirabolante e nos faz acreditar no impossível sem pensar duas vezes. Como muitos outros livros do autor, A Metade Sombria também foi inspirado em fatos reais – mais especificamente, em sua “relação” com o próprio pseudônimo, Richard Bachman. Diferente de Thad Beaumont, porém, King não pôde decidir o destino de seu alter ego, pois de fato teve seu segredo exposto por um jornalista.
Os assassinatos, a investigação e a perseguição garantem à A Metade Sombria um toque de suspense com pitadas de thriller. Já a aura sobrenatural e as cenas gráficas se encarregam de trazer o terror para a história. No entanto, acredito que o grande trunfo de King tenha sido explorar, por meio de Thad Beaumont, o ofício de um escritor – afinal, todo autor, de certa forma, carrega diferentes personalidades e universos dentro de si. E talvez seja essa dissecação que faça com que seja fácil comprar a trama fantasiosa proposta por King.
Com um ritmo frenético, A Metade Sombria é o tipo de livro em que absolutamente tudo pode acontecer. A forma como o autor desenrola os acontecimentos leva os personagens aos mesmos questionamentos que o leitor, nos aproximando ainda mais da história – o que pode parecer impossível dada sua premissa. E como de costume, em se tratando de King, é ainda uma obra repleta de metáforas e simbolismos, o que sempre torna a trama mais profunda e rica.
Mas, para além de toda a fantasia envolvida, A Metade Sombria ainda nos leva a refletir sobre as outras versões de nós mesmos. No fim das contas, será que, de alguma forma, todos nós já não desfilamos por aí os nossos alter egos?
Título original: The Dark Half
Editora: Suma
Autor: Stephen King
Tradução: Regiane Winarski
Publicação original: 1989