
O quarto 622 do elegante hotel Palace de Verbier foi o cenário de um assassinato que chocou os frequentadores dos Alpes Suíços. No entanto, anos se passaram e o crime nunca foi solucionado. Até que Joël, também conhecido como “o Escritor”, resolve passar férias no hotel e é quando se vê hospedado na acomodação 621 bis. Intrigado, ele decide investigar o caso e, quem sabe, enfim desvendar o enigma do quarto 622.
Uma história que combina suspense, intrigas, traições e triângulos amorosos, O Enigma do Quarto 622 foi minha quarta experiência com Joël Dicker. A leitura foi de uma fluidez deliciosa, tanto pela escrita do autor, quanto pela curiosidade em desvendar o mistério. Mas, como trama, confesso que deixou a desejar – especialmente no final.
No entanto, vamos falar primeiro sobre os pontos positivos. Adorei como Dicker se colocou dentro da história! Ao longo do livro, acompanhamos o escritor Joël e sua recém-conhecida companheira de aventuras, Scarlett, seguindo as pistas sobre o assassinato que aconteceu no Palace de Verbier. A investigação dos dois serve, então, como uma moldura narrativa para a história principal, o que funciona muito bem.
Informações são reveladas sobre os “bastidores” da escrita do livro, ainda assim, não dá para saber exatamente onde termina a realidade e começa a ficção. No entanto, sabemos que, ao menos, um dos fatos é 100% real: a morte de Bernard de Fallois, editor e amigo de Dicker e a quem ele dedica O Enigma do Quarto 622. Durante as interações com Scarlett, o autor relembra muitos momentos com de Fallois, o que transforma o livro em uma delicada homenagem ao editor.
Agora, vamos aos pontos negativos: as personagens femininas do livro não me agradaram nem um pouco! Entendo que Dicker tenha usado Anastasia, junto com a mãe e a irmã, para criar sua própria comédia de costumes. Mas achei que as situações não se encaixaram exatamente na época em que a história se passa. Já Scarlett é bastante rasa e estereotipada, servindo apenas de muleta para Joël. Os outros personagens também não me convenceram, pois são planos e previsíveis e, portanto, não têm o poder de manipular o leitor.
O que me fez gostar muito de A verdade sobre o caso Harry Quebert foi a forma como Dicker combinou romance policial com a história de amor e um ritmo digno de thriller. E foi o que também me conquistou em O Enigma do Quarto 622. No entanto, neste livro, o desfecho é quase um Deus ex machina de mau gosto. Digo “quase” porque não se pode dizer que não foi algo construído dentro da trama. Mas, ao mesmo tempo, é uma saída muito conveniente e o leitor precisa ter boa vontade para embarcar na proposta do autor. Enfim, vou deixar vocês tirarem as próprias conclusões…
Título original: L’énigme de la chambre 622
Editora: Intrínseca
Autor: Joël Dicker
Tradução: Carolina Selvatici e Dorothée de Bruchard
Publicação original: 2020