
Jessie e Gerald estão passando por dificuldades no casamento. Na tentativa de recuperar o relacionamento, eles decidem viajar para uma isolada casa de campo. O que o casal tem em mente é uma noite de jogos sexuais, que começa com Jessie algemada à cama. Mas a brincadeira acaba inesperadamente quando Gerald sofre um ataque cardíaco e morre diante dos olhos da esposa.
Imobilizada e com o corpo do marido como a única “companhia”, Jessie se vê completamente impotente. E enquanto ela tenta encontrar uma forma de se salvar, os fantasmas do passado aparecem para lhe assombrar.
Eu já havia assistido à adaptação de Jogo Perigoso, dirigida por Mike Flanagan e lançada em 2017. Por isso, pensava que já sabia o que esperar do livro. Mas a verdade é que, mesmo sendo bastante fiel à obra original, o filme não me preparou totalmente para o que encontrei nas páginas escritas por Stephen King.
Um dos livros mais tensos que já li do autor, Jogo Perigoso nos leva por uma espiral de loucura e desespero. E enquanto testemunhamos a situação fisicamente aflitiva de Jessie, seus traumas, medos e fantasmas parecem se tornar nossos também. As cenas gráficas aparecem em peso e eu, que me considero uma leitora de estômago forte, tive até que parar para respirar em alguns momentos.
Assim como Misery, e diferente da maior parte dos livros de King, Jogo Perigoso conta com pouquíssimos cenários e personagens na trama central. No entanto, flashbacks tornam a leitura mais dinâmica, ao mesmo tempo em que aprofundam a história. É dessa forma que conhecemos o passado de Jessie e entendemos como um acontecimento específico eclipsou toda a sua vida, influenciando muitas de suas escolhas e, de certa forma, levando-a ao momento atual.
Jogo Perigoso é também uma crítica pertinente ao machismo – o que eu não esperava, por se tratar de um livro lançado 1992. Por meio da história de Jessie, King retrata a forma como as mulheres são objetificadas, sexualizadas e estereotipadas pelos homens, assim como a condescendência com que são tratadas. Hoje, são atitudes que condenamos, mas, na década de 1990, talvez ainda fossem tidas como “padrão”.
Genial à sua maneira, Jogo Perigoso não é uma leitura fácil e muito menos pensada para agradar a todos. Mas se enquadra naquele tipo de livro que pode ser lido à superfície ou nas entrelinhas. Se tiver estômago forte, a escolha é toda sua.
Contém gatilhos para abuso sexual, necrofilia, confinamento, violência e cenas gráficas
Título original: Gerald’s Game
Editora: Suma
Autor: Stephen King
Tradução: Lia Wyler
Publicação original: 1992