Após a morte do pai, Pedro decide reconstruir a trajetória de sua família, e é essa a história que acompanhamos em O Avesso da Pele. Narrada em segunda pessoa, a obra de Jeferson Tenório é um retrato do racismo e das inúmeras desigualdades que assolam o Brasil, mas é também a dissecação da relação entre pai e filho, eviscerada em suas faltas, afetos, medos e verdades.

Acredito que dizer que O Avesso da Pele é um livro que todos deveriam ler seja chover no molhado. Ao mesmo tempo, é impossível falar sobre a obra de Tenório e não evidenciar o quanto ela se faz necessária e relevante. Em menos de 200 páginas, o autor mostra o que é o racismo estrutural de uma forma que só não entende quem não quer.

A trajetória que Pedro nos conta é também uma história sobre identidade. É muito interessante – e necessário – acompanhar seu pai se percebendo como um homem negro e entendendo a o verdadeiro significado disso. Já ao navegar pela história da mãe, Pedro nos mostra a realidade da mulher negra, que, em alguns aspectos, diverge daquela vivenciada pelo homem negro.

A escrita de Tenório é extremamente fluida e, apesar da densidade que suas palavras carregam, não consegui não devorar o livro. Também há certa poesia no estilo do autor, que combina sensibilidade e brutalidade, dois ingredientes que se fazem necessários para transmitir a verdade sobre os temas tratados.

Para além da abordagem de questões raciais e sociais, Tenório criou também um drama familiar incrível, que traz à tona traumas e fantasmas do passado – pautados pelas consequências do racismo e também pelas complicações intrínsecas a o que é ser humano e se relacionar com outras pessoas. Vencedor do Prêmio Jabuti na categoria Romance Literário, O Avesso da Pele é a ficção que criamos sobre quem amamos, e que, muitas vezes, nos permite entender de onde viemos e para onde queremos ir.

Editora: Companhia das Letras
Autor: Jeferson Tenório
Publicação original: 2020