
Você já teve a sensação de que uma pessoa que você conhece muito bem não é mais ela mesma? Ela ainda tem a mesma aparência, os mesmos trejeitos e guarda as mesmas lembranças. Mas é como se algo tivesse se apossado de seu corpo e de sua mente. Pode parecer loucura, mas é exatamente o que acontece em Invasores de Corpos.
Tudo começa quando uma moradora de uma pequena cidade da Califórnia confidencia ao Dr. Miles Bennell que seu tio não é mais ele mesmo. Acreditando ser impossível, o médico começa a procurar por explicações plausíveis. No entanto, outros moradores locais começam a relatar a mesma sensação sobre seus entes queridos. Miles pensa se tratar de um delírio coletivo, até ele mesmo se deparar com algo inexplicável, porém real.
Publicado em 1955, Invasores de Corpos é considerado um clássico da ficção científica e já foi adaptado ao cinema quatro vezes. E é genial – e um pouco inquietante também – como, mesmo tendo mais de 60 anos, a obra ainda conversa com a nossa realidade, aqui em 2021. Essa foi a minha primeira experiência com Jack Finney, e já posso dizer que a escrita do autor me ganhou: fluida e objetiva, mas também intensa e imersiva.
O início de Invasores de Corpos é bem frenético, e Finney não “perde tempo” com meias palavras. No entanto, ao longo da leitura, o livro tem seus altos e baixos em relação ao ritmo. Em alguns momentos, é compreensível, já que a trama também apesenta um lado existencial. E, de qualquer forma, nada disso compromete a experiência como um todo.
O gênero da ficção científica sempre abre portas para discutir os caminhos da humanidade – e a obra de Finney, que também tem uma dose de terror, não é exceção. Os “esvaziados”, que já não eram eles mesmos, podem ser uma analogia à superficialidade e alienação que, talvez, as pessoas já apresentassem naquela época. “Às vezes acho que estamos extraindo toda a humanidade das nossas vidas”, escreveu o autor.
Também uma história sobre vida e formas de vida, Invasores de Corpos nos desafia a repensar o que conhecemos e aquilo em que acreditamos. Primeiro, acompanhando Miles Bennell em seu próprio processo de enxergar novas verdades. Depois, nos convidando a imaginar que a história relatada já aconteceu na realidade, em algum grau, de alguma forma. E é quando somos lembrados de que o universo e tudo o que nele vive estão em constante transformação.
Título original: Invasion of the body snatchers
Editora: Darkside Books
Autor: Jack Finney
Tradução: Camila Fernandes
Publicação original: 1955