O céu arroxeado pelo pôr do sol e aquela sensação de nostalgia peculiar. “Peculiar” porque é como se fosse uma saudade do ontem, mas também do amanhã. Eu não sei explicar, mas talvez vocês saibam entender que é assim que o domingo se traduz dentro de mim.

E de certa forma, foi como também me senti ao ler Domingo. No romance de estreia de Ana Lis Soares, conhecemos sete mulheres, em diferentes idades, contextos e situações. Mas todas enfrentam, cada uma da forma que lhe é possível, o turbilhão que é ser mulher. E suas histórias estão entrelaçadas não só pelas pessoas que conhecem, mas também pelas tramas invisíveis das dores, angústias, lutas e alegrias, do orgulho e da potência que carregamos dentro de nós.

Com Beatriz, Bárbara, Sofia, Isabella, Omolara, Antônia e Carolina, Ana Lis navega pelas correntezas da liberdade, maternidade, culpa, força, impacto, coragem, ancestralidade, velhice, saudade, luto, perdas, abusos, renascimento e tantos outros temas e sentimentos. Por isso digo que é praticamente impossível não se enxergar em uma dessas mulheres. Ou em todas.

Domingo é um caminho para nos reapropriarmos daquilo que já devia nos pertencer – nós mesmas. Não são dedos em riste, são braços abertos para confortar, compreender e acolher as mulheres que fomos, somos e nos tornaremos – porque todo dia nos tornamos. São olhos atentos, que reconhecem as culpas que carregamos, mas também generosos, que deixam que elas transbordem de nossos peitos, corpos e almas – para usar as palavras da autora.

Domingo me é saudade do ontem porque é inevitavelmente fim. Mas também me é saudade do amanhã porque, em todo fim, cabem recomeços. E assim também é o Domingo de Ana Lis Soares: uma série de possibilidades e renascimentos.

Editora: Instante
Autora: Ana Lis Soares
Publicação original: 2021