Resenha de Notas sobre o luto – Chimamanda Ngozi Adichie

Não fazia muito mais de um mês que minha mãe havia morrido. Eu estava no shopping quando, por alguma razão, decidi ligar para o celular do meu pai. Telefonei uma, duas, três, quatro, dez vezes… E ele não atendeu. Voltei para casa e, quando cheguei lá, ele não estava. Continuei ligando e ele continuou não atendendo – lembrando que o ano era 2007 e celulares ainda não eram uma extensão do nosso braço. Mesmo assim, eu me desesperei.

Não passou muito tempo, meu pai chegou em casa e me encontrou se não chorando, quase. Ficou surpreso com o meu desespero, mas me abraçou e disse que estava tudo bem. Quando minha mente compreendeu que tudo estava realmente bem, me senti idiota pela minha reação, que então pareceu tão exagerada e descabida. Anos depois, eu entendi que não foi uma coisa, nem outra. Porque eu era só uma garota de 19 anos que sentia um medo enorme e paralisante de perder mais alguém.

Catorze anos se passaram e esse medo enorme ainda vive em mim. Porque, depois que aconteceu comigo, eu descobri que perder alguém não nos faz mais fortes, como eu pensava. Pelo contrário: nos torna ainda mais vulneráveis. Afinal, não imaginamos o quanto dói. Nós sabemos. No entanto, também aprendi que, em algum nível, em algum momento, entendemos a partida daqueles que amamos. Que o luto nunca nos deixa, mas se transforma para que possa se manifestar de formas mais amenas e, por que não?, mais bonitas. E assim, nós sobrevivemos. E aprendemos a viver novamente.

Foram essas as reflexões que me acompanharam durante e depois da leitura de Notas sobre o luto. No pequeno e poderoso livro, Chimamanda Ngozi Adichie compartilha o sofrimento que a morte do pai, em junho de 2020, lhe causou. São relatos crus e viscerais, assim como a dor da perda e a saudade que fica. Senti que a intenção da autora não era exatamente confortar quem passou ou está passando pelo mesmo. E sim, apenas extravasar a sua própria angústia e incredulidade, de uma forma que, muitas vezes, as convenções sociais não nos permitem. E é justamente por isso que acaba se tornando acolhimento. Porque é real.

Ler Notas sobre o luto com a Ali (@alilendounslivros) foi reconfortante e me lembrou de que essa é uma dor tão única, quanto universal. E por isso, deve ser compartilhada. Então, se você perdeu alguém que ama ou não sabe como ajudar quem está passando por isso, leia as palavras de Chimamanda. Porque, para ser cuidada, a dor precisa, antes de mais nada, ser reconhecida. E, muitas vezes, precisamos de um espelho para enxergá-la.

Título original: Notes on grief
Editora: Companhia das Letras
Autora: Chimamanda Ngozi Adichie
Tradução: Fernanda Abreu
Publicação original: 2021

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