
O que era para ser um dia como qualquer outro em Chester’s Mill se transforma no histórico Dia da Redoma. A pequena cidade do Maine acorda isolada do resto do mundo por uma espécie de campo de força, que ninguém sabe exatamente o que é, muito menos como remover. Logo, o caos se instala, com muitas mortes e toda sorte de acontecimentos imprevisíveis – sem falar nas consequências ecológicas que ameaçam a vida de todos.
É nesse contexto que James “Big Jim” Rennie, um dos vereadores de Chester’s Mill, encontra o cenário perfeito para dominar a cidade. No entanto, quando Dale Barbara, um veterano da guerra do Iraque, é readmitido no serviço militar e incumbido do comando de Mill, Big Jim vê seus planos serem arruinados. E ele está disposto a tudo – tudo mesmo – para retomar o poder.
Assim que terminei It, a coisa, em julho de 2015, comprei Sob a redoma, já me deliciando ao imaginar os cenários absurdos que Stephen King poderia criar a partir dessa premissa. Não sei por que demorei seis anos para ler o livro, mas a “espera voluntária” valeu a pena – inclusive, arrisco dizer que gostei mais do que imaginava!
King pode ser conhecido como o “Rei do Terror”, e faz jus ao título. Mas, para mim, a verdadeira habilidade do autor é explorar o que há de mais assustador e visceral em nós, humanos. E o cenário de Sob a redoma é o prato cheio para expor fraquezas, medos, desejos, frustrações e motivações. Ou seja, o que há por trás das nossas “fachadas” e que, muitas vezes, nem nós sabemos.
Como sempre, King parte de uma premissa fantasiosa, mas acaba criando uma história extremamente real. É triste e assustador o quanto Sob a redoma conversa com contexto político que vivemos hoje no Brasil. Como sempre me alertaram, Big Jim é, de fato, um dos vilões mais terríveis do autor. E para além de um político corrupto, que abusa da hipocrisia religiosa, o que vemos em Big Jim são crueldade e egoísmo puros.
Uma leitura surpreendentemente fluida, Sob a redoma tem um final eletrizante e emocionante. Sei que não agrada a todos, mas eu confesso que gostei muito. Mais uma vez, King recorre ao Deus ex machina para criar uma metáfora, no mínimo, interessante e propor reflexões pertinentes. Em um contexto político e social muito bem construído, Sob a redoma é, como muitas das tramas de King, uma história sobre o poder de acreditar – e o quanto precisamos chegar ao limite para exercer esse poder.
*Contém gatilhos de abuso sexual
Título original: Under the dome
Editora: Suma
Autor: Stephen King
Tradução: Maria Beatriz de Medina
Publicação original: 2009