Resenha de Pachinko – Min Jin Lee

“A história falhou conosco, mas não importa”.

É o início dos anos 1900, no pequeno vilarejo de Yeongdo, na Coreia. Sunja tem apenas 16 anos quando se apaixona por Hansu, um homem mais velho que parece ser ainda melhor do que ela poderia ter sonhado. Porém, quando descobre estar grávida, a garota descobre também que seu amado tem esposa e três filhas no Japão.

Sunja se recusa a ser amante de Hansu na Coreia, mas sabe que está encurralada. É quando um pastor de passagem por Yeongdo se oferece para assumir o filho da adolescente e a pede em casamento. Sunja aceita e, em seguida, parte para o Japão, em uma manobra que salva, mas também condena sua vida a partir de então.

Pachinko acompanha a trajetória de Sunja e de sua família por quase 80 anos. E dentro deste recorte – 1910 a 1989 -, a história da personagem não apenas se confunde com muitos acontecimentos históricos importantes, como também é diretamente impactada por eles. A Ocupação japonesa da Coreia, por exemplo, é o fio condutor da obra de Min Jin Lee. Durante os 35 anos de domínio colonial, os japoneses impuseram um regime de terror aos coreanos, o que causou uma série de conflitos políticos, econômicos e sociais entre os países.

É nesse contexto hostil que a protagonista chega ao território japonês e cria seus filhos. Assim, se torna possível entender a real dimensão do preconceito que os coreanos sofreram no Japão e refletir sobre identidade e pertencimento. Com a imigração muitas vezes forçada e, posteriormente, a Guerra da Coreia, muitos coreanos se viram sem pátria. Afinal, não era seguro para eles voltarem ao país de origem, enquanto aqueles que nasceram no Japão sentiam que não pertenciam a nenhum dos dois lugares.

O machismo é outro tema recorrente, e Sunja se revela um exemplo de força e determinação, ainda que da única forma que o contexto permite. No entanto, ao fim do livro, me perguntei: não é triste que nós tenhamos que ser “mulheres fortes”? Quando poderemos ser apenas mulheres, da mesma forma que os homens são apenas homens?

Pachinko me tocou também de uma maneira pessoal. Me fez lamentar o possível papel de meus antepassados na Ocupação japonesa da Coreia e na disseminação do preconceito. Mas também me trouxe identificação, principalmente em valores que são passados, imperceptivelmente, de geração em geração e fazem parte de quem eu sou. E foi assim que me senti quando li o trecho: “Nos Estados Unidos, tudo parecia ter conserto; no Japão, problemas e dificuldades deviam ser suportados”.

Então, Pachinko é a história da família de Sunja, que é a história de muitas famílias coreanas reais que imigraram para o Japão durante a Ocupação. Mas, dentro da obra de Min Jin Lee, pachinko também ganha novos significados: como o jogo de azar, é uma analogia à vida e à nossa esperança de, um dia, vencer; e como metáfora, é o “ecossistema” criado pelos coreanos, para que pudessem existir e sobreviver longe de casa e em tempos sombrios.

Título original: Pachinko
Editora: Intrínseca
Autora: Min Jin Lee
Tradução: Marina Vargas
Publicação original: 2017

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