
Doris Alm tem 96 anos e vive sozinha em Estocolmo, na Suécia. Sua única família é Jenny, a sobrinha-neta que mora nos Estados Unidos e com quem mantém contato constante, apesar da distância. Outra “companheira” inseparável de Doris é a caderneta de endereços vermelha, um presente que seu pai lhe deu há muitos e muitos anos.
Na caderneta, Doris registra o nome de pessoas que fizeram parte de sua vida, assim como histórias que marcaram a sua trajetória. E por saber que não lhe resta muito tempo, ela decide compartilhá-las com Jenny, na tentativa de ajudar a sobrinha-neta a superar traumas do passado.
Eu poderia alertá-los: não iniciem a leitura de A caderneta de endereços vermelha sem preparar o coração. Mas a verdade é que é quase impossível prepará-lo para a gama de emoções e sentimentos que a obra de Sofia Lundberg nos causa. A escrita da autora é leve e fluida, o que, muitas vezes, contrasta com a carga emocional que a vivência de Doris nos traz.
Afinal, já pararam para pensar em quanta vida cabe em 96 anos? Em quase um século, a protagonista colecionou todo tipo de história: de guerras mundiais a particulares, encontros e desencontros, perdas e dores, mas também vitórias e amores. Enquanto conhecemos as lembranças de Doris, conhecemos também as angústias e alegrias de todas as suas versões. E testemunhar tudo isso só poderia ser uma experiência intensa e edificante.
Por narrar acontecimentos que se espalham ao longo de muitos anos, A caderneta de endereços vermelha parece ser vários livros em um só. Em um momento, estamos na Europa, em outro, nos Estados Unidos. Passeamos por épocas em que a comunicação à distância dependia de cartas, mas também aterrissamos no tempo em que milhares de quilômetros são obliterados pela tecnologia.
Entre inúmeras reflexões sobre temas como machismo, abandono parental e abuso, a história de Doris nos faz olhar para quem realmente somos. Filhos, esposas, maridos, pais, mães, irmãos, tios, amigos. Mas, antes de todos esses títulos, somos tudo aquilo que amamos e vivemos. E só podemos existir para sempre naquilo que compartilhamos.
Título original: Den röda adressboken
Editora: Globo Livros
Autora: Sofia Lundberg
Tradutor: Claudio Carina
Publicação original: 2015