O ano é 1997 e Charlie Lewis acumula problemas demais para um garoto de apenas 16 anos: seus pais se separaram e a mãe o deixou como “cuidador” do pai problemático; suas notas provavelmente não serão o suficiente para entrar na faculdade; e seus melhores amigos estão mais distantes do que nunca.
Para fugir de tudo isso, Charlie passa os primeiros dias das entediantes férias de verão andando de bicicleta e mergulhando em livros. Até que, certo dia, ele se depara com uma cooperativa de teatro e conhece a encantadora Fran Fisher. Entrar para um grupo teatral é o último desejo do garoto, mas, para ficar perto de Fran, ele aceita interpretar Benvólio em Romeu e Julieta. E é quando a vida de Charlie começa a se transformar.
Uma dor tão doce é narrado em primeira pessoa pelo próprio Charlie, 20 anos mais velho e prestes a se casar. Portanto, somos apresentados a uma visão de certa forma romantizada daquele verão. Não de uma maneira ruim, mas da forma como sempre enxergamos o nosso passado e, especialmente, a nossa juventude: com um brilho especial e, talvez, com o verdadeiro significado que ela tem.
A história de Charlie pode ser descrita como um livro em que “nada acontece”. E eu amo tramas que não são marcadas por grandes acontecimentos, jornadas em que as transformações são tão sutis, que se tornam quase imperceptíveis. Mas entendo que não é o tipo de história fácil de se construir e, talvez, David Nicholls não tenha sido tão bem-sucedido em fazê-lo. No entanto, o livro também tem seus pontos altos.
E um deles é Charlie e seu arco de desenvolvimento. O protagonista é descrito como uma “pessoa invisível”, e não à toa um de seus apelidos é Ninguém. E é muito satisfatório vê-lo descobrir quem é, do que gosta ou não, o que quer fazer ou não, em vez de viver à sombra de seus amigos e problemas. Então, muito embora não tenha sido uma leitura que amei, Uma dor tão doce é um bom livro sobre coming of age. Porque mostra o quanto crescer é confuso e difícil, mas só é assim porque é algo grandioso e, de certa forma, libertador.
A história de Charlie é a história de todos nós. Afinal, dramas familiares, amigos que vêm e vão, a descoberta de quem somos… Tudo isso faz parte da vida. Mas, mais do que tudo, é uma história sobre o amor em todas as suas formas: o primeiro, o próprio, o familiar, a amizade… E, no fim das contas, o que é o amor, qualquer amor, se não uma dor doce, tão doce, que machuca, mas sempre faz com que queiramos mais?
Título original: Sweet Sorrow
Autora: David Nicholls
Tradutor: Carolina Selvatici
Editora: Intrínseca
Publicação original: 2019