Resenha de A Dança da Morte – Stephen King

Uma história sobre uma pandemia que extermina 99% da população mundial? Sobre a eterna luta entre o bem e o mal? Ou sobre a reconstrução da civilização?

A Dança da Morte é “sim” para todas estas perguntas. Mas, na verdade, é muito mais uma história sobre a humanidade.

O caos tem início quando o mundo é assolado por uma super-gripe, chamada Capitão Viajante. A uma velocidade alarmante, a doença se alastra e, logo, o mundo fica praticamente deserto. Aos poucos, os sobreviventes se reúnem e são obrigados a escolher entre o bem, representado pela frágil Mãe Abagail, uma idosa de 108 anos; e o mal, personificado pelo poderoso e inescrupuloso Randall Flagg.

Um dos livros mais épicos de Stephen KingA Dança da Morte tem mais de 1200 páginas – e eu estaria mentindo se dissesse que foi uma leitura fluida. Não foi. A história conta com inúmeros personagens e King não economizou na hora de nos apresentar aos seus contextos originais. Então, é como se o livro recomeçasse diversas vezes. É difícil se apegar a eles, pois muitos demoram para aparecer novamente. E a bem da verdade, a única de que gostei instantaneamente foi Fran Goldsmith. Mas eu garanto: se você sobreviver” às primeiras 500 páginas, a conexão vai acontecer!

A história começa com uma premissa que poderia se tornar realidade – como viemos a descobrir em 2020. King explora ao máximo como cada um reage ao cenário apocalíptico, e isso só é possível por conta do passado que conhecemos nas páginas anteriores. Ao conhecer as fraquezas e medos de alguns personagens e acompanhar seus arcos de desenvolvimento, acabamos nos identificando e nos apegando. E exatamente como na vida real, não existem heróis absolutos. E sim, pessoas enfrentando e, eventualmente superando suas dificuldades.

Aos poucos, a trama ganha contornos de fantasia e a atmosfera épica começa a ser construída. A teia de acontecimentos parece nos levar a uma guerra entre o bem e o mal. Mas, na verdade, o que King nos mostra é que, entre um e outro, existe uma vasta área cinzenta, exatamente onde muitas pessoas se encontram. E se Randall Flagg é o mal encarnado, seus súditos talvez sejam muito mais vulneráveis e amedrontados do que de simplesmente malvados.

Alguns leitores comentaram comigo que esperavam um final mais épico. Eu entendo e acredito que, sim, King poderia ter caprichado um pouquinho mais no clímax pelo qual tanto esperamos. No entanto, a verdade é que A Dança da Morte não é uma história sobre o antes ou o durante. Acontece que precisamos passar por eles para chegar aonde importa – o depois.

Mais uma vez, King nos lembra que o mal existe, sim, e o bem também. Que o medo pode nos enfraquecer, mas que a , seja ela qual for, também tem seu poder – afinal, todos precisamos acreditar em algo. Talvez os personagens de A Dança da Morte tenham sido confrontados com uma escolha que parece não existir de maneira tão objetiva na realidade. Mas o que King faz é recriar e exacerbar uma dinâmica pela qual todos passamos todos os dias: a escolha dos nossos próprios caminhos.

Entre pandemia, guerra e civilização, A Dança da Morte nos faz pensar sobre o que a humanidade aprende em tempos difíceis. Individual e coletivamente. E ao ler as últimas linhas da história, eu me perguntei, pensando em mim e em todos nós: há quanto tempo estamos cometendo os mesmos erros e voltando ao mesmo ponto de partida?

Título original: The Stand
Autor: 
Stephen King
Tradução: Gilson Soares
Editora: Suma
Ano: 1978

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