Já faz um tempo que Augusto observa Luanna, a vizinha do prédio ao lado. Ele está desempregado e mal consegue pagar o aluguel. Ela mora com os pais em um belo apartamento e tem um bom emprego. E é evidente que a distância entre os dois é muito maior do que os metros que separam suas janelas. Em uma noite qualquer, porém, a relação de Augusto e Luanna acaba se transformando em mais uma das muitas situações improváveis trazidas pela pandemia do novo coronavírus.
Se você imaginou que O Stalker e a Patricinha romantizaria a situação, pode esquecer. Em poucas páginas, Francisco Scattolin explora a transgressão cometida por Augusto de maneira que o leitor (e, principalmente, a leitora) sinta que sua privacidade também foi violada.
No entanto, o (péssimo) hábito de Augusto também expõe a solidão que ele sente. Nada que justifique suas atitudes, mas algo que nos leva a pensar sobre um dos sentimentos que tem sido tão exacerbado pelo isolamento social. E, na verdade, é exatamente o que acaba unindo os dois vizinhos.
Gostei muito de como Scattolin explorou as diferenças entre classes sociais – outra problemática agravada pela pandemia. O autor não coloca a questão de maneira tão explícita, mas o suficiente para que nos demos conta dos nossos privilégios. O cenário de O Stalker e a Patricinha, aliás, me levou automaticamente aos bairros luxuosos de São Paulo, em que a desigualdade social é escancarada.
Para além do contexto de pandemia, O Stalker e a Patricinha nos envolve em questionamentos morais e sociais extremamente atuais. São apenas 29 páginas, mas a trama é intrigante e reviravoltas não faltam. E o desfecho… é para deixar o leitor esperando por mais.
Autor: Francisco Scattolin
Ano: 2020
*parceria paga com Francisco Scattolin