Quantas vezes você leu um livro ou assistiu um filme ou série e se sentiu realmente representado? Não apenas em aspectos físicos, mas também em relação à bagagem que você carrega – até porque os dois estão, muitas vezes, interligados.
Não importa qual seja a sua resposta, Vozes Negras vai fazer você pensar bastante sobre a importância de tudo isso. A antologia traz quatro contos, escritos por cinco mulheres negras, e vou falar um pouquinho sobre cada um deles aqui:
Coincidências, assinado por Maria Ferreira, conta como Amara teve o seu coração partido por Pedro. A escrita da autora é leve, e a sensação é a de ter uma conversa informal com a protagonista. Como não quero dar spoilers, vou apenas dizer que gostei bastante do tema abordado por Maria. Tanto que gostaria que o conto fosse maior, explorando ainda mais esse aspecto da história de Amara e Pedro – não tanto como um casal, mas como indivíduos.
Como o título já diz, Carimbos e memórias, de Flor, Priscila, mexe com as lembranças e com os caminhos que nos levam a determinado ponto de nossas vidas. Com um perfume de nostalgia, a leitura foi inspiradora, do tipo que nos deixa com um sorriso no rosto. Mas, para além das conquistas de Gloria, a protagonista, o conto nos faz pensar sobre as oportunidades que são garantidas desde sempre para alguns, e nos porquês de não serem garantidas para todos.
Não existem sinônimos suficientes para futuro, de Isa Souza e Pétala Souza, traz a Vozes Negras um toque de ficção científica. O universo criado pelas autoras é tão rico e apresenta tantas possibilidades, que eu torço para que o conto dê origem a um livro. O gênero sempre permite a exploração de questões sociais, e Isa e Pétala o fizeram com maestria. O último parágrafo do conto me tocou profundamente e, considerando o trabalho delas no @blogparenteses, não poderia representá-las melhor!
Por fim, não vou mentir que Na ponta dos sonhos, de Amanda Condasi, foi o conto que mais me envolveu. Dandara me encantou com seus sonhos, sua determinação, força e perseverança. Ela é o tipo de personagem que nos cativa tanto, que gostaríamos que fosse nossa amiga na vida real. E eu só posso imaginar o quanto e de que formas a história protagonizada por Dandara pode inspirar não apenas adultos, mas também e principalmente crianças negras.
Não poderia existir palavra melhor do que “necessária” para descrever a leitura de Vozes Negras. Afinal, a necessidade das pessoas negras se verem representadas é urgente, assim como a de tomar conhecimento sobre diversas questões que permeiam suas vidas. A proposta é reconhecer a realidade para se tornar parte da mudança, no lugar que cabe a cada um de nós.
Autoras: Amanda Condasi, Flor, Priscila, Isa Souza, Pétala Souza e Maria Ferreira
Ilustrações: Limão
Ano: 2019