A tradição devadasi diz que as mulheres de castas inferiores de algumas aldeias da Índia devem dedicar suas filhas à deusa Yellamma, tornando-as “prostitutas do templo”. Mukta é uma destas garotas e, aos 10 anos, este é seu destino. No entanto, uma reviravolta acontece quando ela é resgatada por Ashok Sahib e levada para sua casa, em Bombaim.
Em seu novo lar, Mukta conhece Tara, a filha de Ashok, e as duas desenvolvem uma relação de irmãs. Cinco anos depois, porém, Mukta é sequestrada e nada é descoberto sobre seu paradeiro. Tara e o pai se mudam para os Estados Unidos, onde tentam deixar as dores do passado para trás. No entanto, mais de uma década depois, as feridas estão mais abertas do que nunca. E é quando Tara decide voltar à Índia, determinada a encontrar Mukta.
A premissa de Todas as cores do céu já indica que a leitura será uma montanha russa de emoções. Ainda assim, não é o suficiente para nos preparar para tudo o que existe nas páginas escritas por Amita Trasi. A crueldade da realidade de meninas indianas faz com que tristeza e revolta nos devorem. Mas a força da resiliência nos banha em esperança e amor. E como na vida real, uma coisa não apaga a outra. Mas permite sobreviver ao que, às vezes, parece impossível.
Tara é uma personagem complexa, que me causou uma variedade de sentimentos, nem sempre positivos. Apesar de fazer parte de uma casta superior, sua vida também não foi fácil. E muitas de suas atitudes estão longe de serem corretas, mas são passíveis de compreensão – o que não significa que não causem revolta. Já Mukta ecoou em mim os sentimentos de impotência e tristeza, empatia e solidariedade. E o que mais dói é saber que o que a personagem enfrenta não é apenas ficção. É a realidade de muitas garotas indianas.
Mas, como eu disse, Todas as cores do céu é uma montanha russa de emoções. A revolta e tristeza que sentimos se transformam em coisas boas ao longo da leitura. E essa “metamorfose de sentimentos” é um reflexo das jornadas individuais e internas de Tara e Muka também.
Ao contar a história das duas garotas/mulheres, Amita Trasi fala sobre tudo o que se quebra e se perde e, ainda assim, pode ser reconstruído e reencontrado. Sobre como a dor pode tanto nos fazer agir de maneira impulsiva, quanto nos paralisar. Sobre culpa, perdas e arrependimentos, mas também sobre redenção e perdão. E, principalmente, sobre como é necessário deixar algumas coisas para trás para que possamos seguir em frente.
Porque talvez não seja o peso dos acontecimentos que nos impede de ir adiante. E sim, o peso dos nossos sentimentos.
Título original: The colour of sky
Autor: Amita Trasi
Tradutor: Caroline Chang
Editora: HarperCollins Brasil
Ano: 2015