Mulheres que só fazem o que querem não deveriam ser consideradas ousadas, não é? Mas, infelizmente, foram por muito tempo. E, por muitos, ainda são.
Em mais uma graphic novel encantadora, Pénélope Bagieu nos apresenta 15 mulheres reais que desafiaram padrões para serem quem queriam ser. Clémentine Delait, a mulher barbada; Margaret Hamilton, a atriz aterrorizante; Josephina van Gorkum, a apaixonada teimosa; Agnodice, a ginecologista… Não há dúvidas de que Ousadas nos leva a uma rica viagem por diferentes épocas, lugares e culturas.
Conheci o trabalho de Bagieu com o maravilhoso e surpreendente Uma morte horrível. Por isso, não tinha dúvidas de que Ousadas seria incrível. O estilo de ilustração é um pouco diferente em cada uma das obras, mas é possível ver as semelhanças. Já o humor ácido e perspicaz é exatamente o mesmo nas duas graphic novels. Ou seja, com Ousadas é possível aprender e se divertir, se entreter e refletir.
A princípio, a leitura foi uma injeção de inspiração. Mas confesso que também me senti triste por perceber que essa luta já dura séculos – literalmente. E eu me perguntei: por que, em 2020, nós, mulheres, ainda precisamos desafiar padrões? Por que não podemos ser o que queremos, porque queremos?
Mas logo a tristeza e a revolta deram lugar novamente à inspiração e também à gratidão. Afinal, Ousadas nos conta as extraordinárias histórias de mulheres visionárias e corajosas. Mulheres que, direta ou indiretamente, lutaram para que nós, hoje, pudéssemos ser mais o que realmente somos e menos o que esperam que sejamos.
As batalhas que elas travaram foram diferentes entre si – do cinema à medicina, passando pela realeza e até a resistência. Mas a luta é sempre a mesma: para que as mulheres sejam cada vez mais donas de si mesmas e de seus destinos. Para que sejam simplesmente livres.
Título original: Culottées
Autor: Pénélope Bagieu
Tradutor: Fernando Scheibe
Editora: Nemo
Ano: 2016