Eu nunca tive dúvidas de que iria gostar de Americanah. O que eu não imaginava é que ele se tornaria um dos meus livros favoritos de todos os tempos.
Já faz semanas que terminei a leitura, porém, volta e meia, me pego refletindo sobre a obra de Chimamanda Ngozi Adichie. Parece que sempre há algo novo para se pensar, para dissecar – parece não, de fato há. Desde então, já sentei na frente do computador várias vezes para escrever a resenha. E simplesmente não consigo escrever nada que reflita a riqueza de toda a experiência – mas eu tentei e aqui está.
Vamos começar pelo começo: Americanah conta a história de Ifemelu e transita por diferentes épocas e lugares – começando nos anos 1990, com a protagonista ainda adolescente, em Lagos, na Nigéria. Por conta das frequentes paralisações nas universidades nigerianas, Ifemelu decide ir para os Estados Unidos. E lá, ela conhece muito mais do que um país diferente: Ifem descobre uma outra versão de si mesma, em meio aos desafios de ser mulher, negra e imigrante no Novo Mundo.
Eu sempre soube que Americanah abordava assuntos atuais e extremamente importantes. E talvez por isso tenha, erroneamente, imaginado que a leitura seria densa e até arrastada. E o livro, de fato, é denso, mas não da maneira que eu esperava. E isso foi o que mais me encantou na leitura: a forma como Chimamanda orquestrou tantos temas delicados em uma narrativa inesperadamente leve e fluida.
Como Ifemelu se torna uma blogueira famosa, Americanah traz também alguns posts escritos pela personagem. E nestas reflexões, a autora nigeriana dá uma verdadeira aula sobre feminismo, questões de gênero, raça e identidade. Mas, ao mesmo tempo em que são quase didáticos, os textos são repletos de um senso de humor por vezes ácido (e perfeito) e de uma objetividade que não deixa espaço para eufemismos – o que não poderia ser mais adequado, afinal, a realidade, ainda mais em se tratando destas questões, é o que é, sem rodeios.
Por tudo isso, é difícil ler Americanah e não se identificar, em algum trecho, em algum grau. É impossível ler Chimamanda e não aprender. De uma contemporaneidade absoluta, em todos os sentidos da palavra, Americanah é uma história de amor – entre um homem e uma mulher, também, mas muito mais entre uma mulher e todas as versões de si mesma.
Título original: Americanah
Autor: Chimamanda Ngozi Adichie
Tradutor: Julia Romeu
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2013
[…] No entanto, a forma como ela o faz em Hibisco Roxo é completamente diferente do que vemos em Americanah – o que só mostra a versatilidade da autora. Em seu primeiro romance, publicado em 2003, […]