Edgar Allan Poe é um dos nomes mais conhecidos da literatura, especialmente quando se trata de terror gótico. E não à toa, é também uma das grandes influências de Stephen King. Por tudo isso, é claro que sempre tive muita curiosidade para conhecer a escrita do autor. No entanto, sempre que falamos sobre escritores icônicos e obras clássicas, as perguntas que não querem calar são: por onde começar? E se eu não gostar?
Depois de muito adiar minha primeira experiência com Poe, decidi começar pela adaptação em quadrinhos do famoso conto O Gato Preto. Talvez não seja a estreia ideal, mas o formato me deixou mais confortável para me familiarizar com a obra e o estilo do autor. E posso dizer que agora me sinto mais confiante para mergulhar mais um pouco nas histórias de Poe.
O Gato Preto nos apresenta a um personagem misterioso que, desde pequeno, ama estar na companhia dos animais. Sua esposa compartilha do sentimento e, por isso, a casa dos dois é habitada pelas mais diferentes espécies – e entre elas, Plutão, um lindo gato preto, se destaca. Com o tempo, o temperamento do protagonista passa por grandes mudanças causadas pelo alcoolismo, e tanto sua esposa, quanto seus animais sofrem as consequências.
Em O Gato Preto, Poe explora o vício e a loucura, tanto de maneira explícita, quanto alegórica. O toque sobrenatural e fantástico faz com que o leitor misture “realidade” e possíveis alucinações, experimentando mais das sensações do personagem. A violência e a crueldade também estão presentes na história – e aproveito para deixar aqui o alerta em relação a gatilhos em potencial.
O único aspecto que me incomodou um pouco foi sentir que a figura do gato foi, de certa forma, associada ao mal. Logo no início do quadrinho, o protagonista conta que sua esposa é supersticiosa e acredita que “gatos pretos são bruxas disfarçadas”, sem falar em todo o desenvolvimento da trama.
Porém, tenho certeza de que não foi a intenção de Poe, já que o autor tinha uma gata, Catterina, e escrevia suas histórias com ela sobre os ombros. A ideia deve ter sido apenas explorar o misticismo que envolve o animal – o que hoje é visto de forma muito mais elogiosa do que provavelmente era no século 19, quando o conto foi escrito.
Título original: The Black Cat
Autor: Edgar Allan Poe
Editora: Martin Claret
Ano: 1843