Acreditar no impossível para falar sobre o real. É o que Stephen King sempre nos leva a fazer.
Em À espera de um milagre, acompanhamos a jornada final de John Coffey, condenado à pena de morte por um crime hediondo. A caminho da cadeira elétrica, ele conhece Paul Edgecombe, o superintendente do “Corredor Verde” da Penitenciária de Cold Mountain. E o que acontece a partir de então só poderia mesmo ser chamado de “milagre”.
Eu nunca havia assistido à adaptação do livro, mas conhecia sua premissa (e o desfecho). Por isso, quando comecei a ler King, em 2014, e descobri que ele era o autor de À espera de um milagre, fiquei muito curiosa. Afinal, eu não conseguia entender como o Rei do Terror poderia ter escrito uma trama que me parecia ser tão sensível. Porém, quanto mais eu conhecia a obra de King, mais eu via o quanto fazia sentido ele ter criado a história de John Coffey.
E ainda assim, me surpreendi com o que li.
Com À espera de um milagre, King coloca o leitor em seu próprio corredor da morte. Para mim, foi impossível não pensar sobre qual seria a minha última refeição ou os meus últimos pedidos. Não me questionar se eu sentiria medo ou se aceitaria o meu castigo em paz. E assim, ele nos mostra o lado humano e até vulnerável de alguns dos condenados, nos envolvendo completamente em toda a complexidade e tridimensionalidade da situação – o que me lembrou bastante de A Sangue Frio, pioneiro do New Journalism escrito por Truman Capote e um dos meus livros favoritos.
King não aborda o racismo de maneira incisiva ou aprofundada. Mas, ao retratar a história de um homem negro, condenado por um crime no sul dos Estados Unidos em 1932, nos provoca o suficiente para que pensemos também sobre o assunto. E eu poderia passar o dia divagando sobre todas as reflexões que À espera de um milagre me propôs, reforçando crenças que eu já tinha e me trazendo novas perspectivas.
Mas, talvez, seja o suficiente dizer que a história de John Coffey e Paul Edgecombe me trouxe a certeza de que justiça e salvação são conceitos tão subjetivos quanto certo e errado.
Título original: The Green Mile
Autor: Stephen King
Editora: Suma
Ano: 1996
[…] À espera de um milagre (1999), escrito por Stephen King e dirigido por Frank Darabont Lembro até hoje do sucesso que À espera de um milagre fez na época em que foi lançado. Apesar de nunca ter assistido ao filme, eu já conhecia a história e seu desfecho. No fim do ano passado, li a obra de Stephen King e, então, assisti à adaptação, que não deixou nada a desejar. No Oscar, o longa concorreu às estatuetas de Melhor Filme, Melhor Ator Coadjuvante, com Michael Clarke Duncan, Melhor Roteiro Adaptaco e Melhor Mixagem de Som. […]