Eu comecei a leitura de O Diário de Nisha pensando que iria aprender sobre a Partição da Índia. Mas a maior lição não foi sobre história e, sim, sobre humanidade.

Nisha tem 12 anos quando, em 1947, seu país se divide entre dois estados independentes do governo britânico: a Índia, onde a maioria é hindu, e o Paquistão, onde a maioria é muçulmana. Quando a tensão religiosa se torna ameaçadora, o pai de Nisha decide que é perigoso demais permanecerem onde moram, que agora pertence ao Paquistão. Então, a garota, o irmão gêmeo, Amil, o pai e a avó iniciam a travessia para um novo país e um novo lar.

Admito que sabia muito pouco (e continuo não sabendo muito) sobre a Partição da Índia. E foi isso o que me deixou curiosíssima para ler a obra de Veera Hiranandani, que se inspirou na trajetória de seus pais e avós. A princípio, fiquei um pouco desapontada pelo fato de o livro não trazer muito do contexto histórico. Mas, depois, percebi que não faria sentido se fosse diferente: pela idade da protagonista, pelo formato de diário e, principalmente, porque a obra não é exatamente sobre a Partição da Índia.

Em O Diário de Nisha, Hiranandani nos faz ver e questionar o mundo pelo olhar puro de uma criança. Nisha não entende por que pessoas de diferentes religiões, que viviam em harmonia, estão agora brigando e derramando tanto sangue. “Quem foi o primeiro a matar?”, ela pensa. E não é essa a pergunta que parte da humanidade se faz toda vez em que qualquer tipo de intolerância e preconceito vencem? Mas a resposta permanece um mistério.

Por isso digo que O Diário de Nisha é, sim, sobre a Partição da Índia e a tensão religiosa. Mas, em sua essência, é sobre tudo aquilo que segrega e corrompe. E o que mais me entristece é a consciência de que essa história se repete desde que o mundo é mundo e, aparentemente, está longe de mudar.

Título original: The Night Diary
Autor: Veera Hiranandani
Editora: Darkside Books
Ano: 2018