Não vou mentir: eu esperava mais.
Quando deixa sua filha, Kylie, no ponto de ônibus, Rachel Klein não imagina que aquela cena do cotidiano será o início de um pesadelo. Minutos depois, ela recebe a ligação de uma mulher estranha, que a instrui a pagar o resgate e a sequestrar outra criança dentro de 24h. “Não é pelo dinheiro, é pela Corrente”, diz a voz. Rachel não se imagina submetendo outra família à tortura pela qual está passando. Mas não tem outra alternativa: se não se tornar parte da Corrente, Kylie será assassinada.
O que você faria, de verdade, no lugar de Rachel?
Acredito que não tenha como escapar desse dilema durante toda a leitura. E é o que, de certa forma, torna A Corrente um thriller diferente de boa parte dos livros do gênero (mas não de todos): a ideia de que podemos ser vítimas e agressores ao mesmo tempo.
No entanto, o desenvolvimento da trama e a construção dos personagens não me agradaram completamente. Não dá para negar que a história é intrigante, e devorá-la é quase uma necessidade. Mas me incomodou bastante que as questões de Rachel e Peter tenham sido impeditivos apenas quando era conveniente, para que o nível de tensão da trama crescesse.
E isso se repete em vários momentos do livro: primeiro, os problemas se acumulam como em uma bola de neve para, depois, se revolverem de maneira quase simplória. E é por isso que eu tenho certeza de que A Corrente seria um livro melhor se se restringisse à primeira parte, que é frenética e realmente envolve o leitor em um dilema interessante.
Já na segunda parte, a sensação é a de que Adrian McKinty quis tornar a trama mais complexa, e o tiro acabou saindo pela culatra. Não vou me alongar aqui para não dar spoiler, mas basta dizer que a explicação criada pelo autor não me convenceu. Mais uma vez, muito conveniente e pouco condizente com o restante da história.
Mas, afinal, A Corrente é um livro ruim? De forma alguma. Como falei, é um thriller que realmente envolve e é impossível não ficar curioso com o desenrolar da trama. No entanto, na minha opinião, com a premissa que tem, poderia ter explorado muito mais, principalmente em relação à tridimensionalidade dos personagens.
Título original: The Chain
Autor: Adrian McKinty
Editora: Record
Ano: 2019