Frederick Clegg é um homem recluso e humilde, que tem como hobby colecionar borboletas. Desde a primeira vez que vê Miranda Grey, uma jovem estudante de artes, se sente hipnotizado por sua beleza emoldurada por cabelos longos e dourados. E então, ele simplesmente sabe que a garota é o amor de sua vida. Alguns anos depois, Clegg ganha na loteria e encontra a possibilidade de transformar seu grande sonho em realidade: Miranda vai aprender a amá-lo, custe o que custar.
Entender por que O Colecionador se tornou um clássico e best-seller não é difícil. Afinal, a história de um homem que se vê no direito de manter uma mulher em cativeiro é revoltante e impactante até hoje. Agora, imagine em 1963, quando a obra de John Fowles foi lançada?
A trama é narrada tanto por Clegg, em primeira pessoa, quanto por Miranda, no formato de diário. Nas partes do sequestrador, não resta um pingo de dúvida: ele é completamente insano e fora de qualquer “padrão”. Já no trecho de Miranda, fica evidente que ela não é uma personagem fácil de se gostar. E é assim que Fowles manipula o leitor e o coloca frente a frente com a possibilidade de relativizar as atitudes de Clegg e até de culpabilizar Miranda. Porque ele pode ser gentil e respeitoso, mas ainda é e sempre será um sequestrador. E ela pode ser elitista e esnobe, mas é e sempre será a vítima.
Recomendo muito a leitura de O Colecionador, mas saiba que não se trata de um thriller para ser devorado. A trama, claro, gira em torno do crime, da dinâmica entre o sequestrador e sua vítima. Mas é também o tipo de livro que, apesar de retratar uma situação extrema e específica, invade a nossa realidade. Afinal, ao entrar nas mentes de Clegg e Miranda, Fowles nos propõe uma série de reflexões inesperadas e atemporais, que vão desde o que é arte, amor e liberdade até o feminismo e a luta de classes.
Não vou mentir: ler O Colecionador é se sentir invadida enquanto mulher, de maneiras dolorosas. É revoltante por saber que é ficção, mas também é realidade. No entanto, é ainda aquela fagulha para que sejamos cada vez mais a esperança e a coragem de Miranda e menos seu desespero e solidão.
Título original: The Collector
Autor: John Fowles
Editora: Darkside Books
Ano: 1963