Resenha de A Curva do Sonho – Ursula K. Le Guin

George Orr pode mudar a realidade com um simples sonho. Porém, incapaz de controlar seu poder e cansado do medo de acordar em um mundo completamente diferente, ele aceita se consultar com o Dr. William Haber. Logo na primeira visita, o psiquiatra testemunha a extensão e força da capacidade de seu paciente. É quando Orr se transforma em uma perigosa arma nas mãos de um homem ambicioso e inescrupuloso.

A Curva do Sonho já seria fantástico se fosse “apenas” uma obra de ficção científica. No entanto, Ursula K. Le Guin foi além, e criou alegorias para tantos aspectos da vida, que é até difícil decidir por onde começar. Mas acredito que as duas primeiras grandes reflexões sejam: o que você faria se tivesse o poder de Orr? E se pudesse controlá-lo, como Haber? Gostamos de pensar que nossos atos seriam nobres, pode ser que fossem mesmo. Mas a situação muda completamente quando deixa de ser hipótese para se tornar realidade. E é com isso que a autora brinca durante todo o livro.

Um dos aspectos que mais me chamou a atenção em A Curva do Sonho foi a abordagem de questões como machismo e racismo – e vale lembrar que a obra foi lançada em 1971, quando esses temas eram ainda mais delicados. O genial é que as críticas foram feitas de maneira velada, sem necessariamente “impor” a reflexão ao leitor. Ou seja, é praticamente uma recriação do que (ainda) vivemos no dia a dia: cabe a nós captar as críticas, desconstruir as ideias e devolvê-las ao mundo.

Em um mix imprevisível entre as teorias do caos e da conspiração, A Curva do Sonho nos confronta com o que parece irresistível para os humanos: brincar de Deus. Ao mesmo tempo, a história também nos desafia a acreditar (ou não) em qualquer existência divina. Afinal, se um homem é capaz de mudar a realidade com um simples sonho, quem, de fato, está no comando? E de certa forma, já não é mais ou  menos isso o que vivemos? Vale a reflexão.

Título original: The Lathe of Heaven
Autor: Ursula K. Le Guin
Editora: Morro Branco
Ano: 1971

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