“Portanto, Maria Dinorah, não vou dizer que fiquei preso às suas estórias: pelo contrário, elas me libertaram. Não é por acaso essa a função da poesia?”

Me atrevo a pegar emprestadas as palavras de Mário Quintana para começar a falar sobre Que falta que ela nos faz. Pois foi assim que também me senti ao ler as poesias de Maria Dinorah: estranhamente livre, mesmo falando sobre assuntos que, muitas vezes, nos acorrentam por dentro.

Mais do que uma compilação do trabalho de Maria Dinorah, Que falta que ela nos faz é uma homenagem à autora, que faleceu em 2007. Oito anos depois, nasceu o livro organizado por Patricia Pitta, com poesias escolhidas a dedo pelos filhos da escritora. Por isso, a leitura se torna duplamente significativa: pelo seu conteúdo atemporal e por ser uma seleção de inevitável carga emocional!

Além de poesias já publicadas, Que falta que ela nos faz também traz textos inéditos de Maria Dinorah. O mais interessante é que muitos deles estão escritos em agendas e despretensiosos pedaços de papel, o que mostra a espontaneidade da escritora, assim como sua urgência em, à sua maneira, documentar o mundo à sua volta. O projeto gráfico é um espetáculo à parte, recheando as páginas com fotos, ilustrações e também as anotações de próprio punho da autora.

As poesias de Maria Dinorah me surpreenderam pelo viés social e, às vezes, até político. Mesmo em seus escritos direcionados ao público infantil, temas pungentes como pobreza e desigualdade social ganham espaço, nos mostrando como é importante (e possível!) a conscientização desde a infância. E talvez, esse seja uma das marcas registradas de Maria Dinorah: a capacidade de enxergar a amarga realidade e, ainda assim, retratá-la em doces palavras.