Dizer que amei Matadouro-Cinco seria mentira. Mas não é exagero dizer que o livro transformou muitas coisas dentro de mim.
Billy Pilgrim foi prisioneiro durante a Segunda Guerra Mundial, e testemunhou o bombardeio de Dresden, em 1945. Depois de presenciar todo tipo de horror, ele volta para Ilium, onde leva uma vida absolutamente normal – se torna optometrista, se casa e tem dois filhos. Mas a verdade, segundo Billy, é bem diferente: afinal, ele não só foi abduzido pelos tralfamadorianos, como também é capaz de viajar no tempo.
Kurt Vonnegut foi, de fato, prisioneiro de guerra e testemunhou a destruição de Dresden. Partindo desse pressuposto, é fácil imaginar Matadouro-Cinco como um livro denso, intenso e destruidor. E talvez seja mesmo… Mas, com certeza, não da maneira que você espera.
Apesar de ter realmente vivido a SGM (ou justamente por isso), Vonnegut foi capaz de fugir dos lugares comuns e criar uma história completamente original. Logo no início da trama, o autor nos faz refletir sobre a forma como filmes e livros, muitas vezes, podem romantizar as guerras. E isso é exatamente o que ele não faz em Matadouro-Cinco, um relato não menos cruel do que outros, mas muito menos glamourizado do que a maioria. Um retrato cru, doloroso e honesto de atitudes e tempos sombrios.
Mas, acredite, Matadouro-Cinco não é só uma história sobre a guerra. Tampouco apenas um livro de ficção científica. É muito mais. É um ensaio sobre a nossa existência, em que Vonnegut desafia nossas crenças e verdades. Seres que provavelmente nem existem colocam em perspectiva os nossos conceitos de passado, presente e futuro – e a narrativa do autor, aliás, é a reprodução perfeita da não-linearidade proposta pelos tralfamadorianos. As diferentes dimensões deixam de ser especulações para se tornarem ecos da nossa vida e daqueles que amamos, trazendo um inesperado conforto para qualquer pessoa que já tenha perdido alguém.
Porque, no fim das contas, os humanos são realmente capazes de se acostumar a tudo. A guerras e mortes, a dores e perdas, até mesmo à crueldade. “É assim mesmo”, como diria Billy Pilgrim. Mas nunca sem fugas, subterfúgios e verdades particulares. E Matadouro-Cinco é sobre isso.
Título original: Slaughterhouse-Five, or The Children’s Crusade: A Duty-Dance with Death
Autor: Kurt Vonnegut
Editora: Intrínseca
Ano: 1969
Parabéns, Namanita! E obrigado por nos mostrar mais um livro que parece ser sensacional. Fiquei morrendo de vontade de lê-lo agora.
Parabérns, também, pelo lindo blog, pelo belo trabalho que tens feito aqui!
Aceita uma sugestão? Esqueceu de cocar o ano de publicação no Brasil, e de dar os créditos ao tradutor. Beijão!
[…] da memória e o quanto somos produtos das nossas lembranças. Assim como Kurt Vonnegut em Matadouro-cinco, o autor nos faz repensar a linearidade do tempo. E sim, dá um nó em nossa cabeça. Mas também […]