
O que você espera de uma graphic novel que narra a viagem a uma cidade marcada pela guerra? Uma obra densa, com certeza. Até dramática, talvez. E, sim, Kobane Calling: ou como fui parar no meio da guerra na Síria é um pouco dois e muito mais. Mas também traz uma dose de humor sincero e inesperado que lhe cai muito bem, quebrando um pouco da seriedade do tema, mas sem perder a responsabilidade.
Como o título denuncia, Kobane Calling conta como o quadrinista italiano Zerocalcare foi parar na cidade de Kobani. Por lá, ele viu e viveu alguns dos muitos perigos da guerra e conheceu o exército de mulheres curdas que lutam contra o Estado Islâmico. Admito que sei muito pouco sobre a guerra na Síria, por isso, o início do livro foi um pouco conturbado. Mas o autor explica uma série de particularidades sobre a situação e, assim, foi possível me situar. E depois que me familiarizei um pouco com o assunto, a leitura se tornou fluida e cada vez mais interessante.
Antes de começar a ler Kobane Calling, achei que encontraria um relato heróico por parte de Zerocalcare. No entanto, não poderia estar mais enganada!! O quadrinista não tem nenhum problema em revelar o medo que sentiu diante à possibilidade de ir a Kobani. E ainda assume o papel de “ignorante” (no sentido de realmente não saber), verbalizando dúvidas e equívocos que grande parte de nós também tem e comete. Aos poucos, ele começa a realmente entender a realidade da guerra na Síria e de Kobani, o que resulta em uma admiração consciente e genuína à causa do povo curdo.
E é assim, com um mix entre o choque de realidade e a leveza do senso de humor, que Zerocalcare democratiza a guerra na Síria. Sei que o que o quadrinista viveu e retratou em Kobane Calling não é nem um terço do que realmente acontece na região. Mas é o suficiente para sairmos da nossa bolha e termos uma dimensão, ainda que pequena, do que acontece no mundo.
Título original: Kobane Calling
Editora: Nemo
Autor: Zerocalcare
Ano: 2016
Páginas: 272
Avaliação: 4 estrelas