Baudouin Dutil nunca gostou de correr riscos. Prefere viver uma vida solitária e faz questão de manter seu emprego, apesar de odiá-lo. Já seu irmão mais velho, Luc, é exatamente o oposto. Um espírito livre, viaja o mundo todo exercendo a medicina e, desde sempre, tenta convencer o caçula a aproveitar mais a vida. Baudouin nunca aceitou as ofertas de Luc, até o dia em que descobre uma doença terminal. É quando ele deixa o pequeno apartamento e o emprego em Paris para, finalmente, descobrir mais sobre si e sobre a vida.
Quando somos crianças, sonhamos com o dia em que seremos independentes, bem-sucedidos e donos de nossas próprias vontades. E quando crescemos, descobrimos que nada disso tem, necessariamente, a ver com ser adulto. Afinal, quem nunca se sentiu preso em sua própria vida? Ou teve a sensação de estar apenas vivendo um dia após o outro? É exatamente assim que Baudouin se sente. E, de certa forma, é exatamente assim que ele escolhe se sentir todos os dias.
É verdade que Duas Vidas não tem a premissa mais original do mundo. Mas Fabien Toulmé consegue explorar o clichê sem se prender ao lugar comum e, o melhor, sem ser pedante. Até porque nem seria necessário, já que a temática da graphic novel naturalmente nos leva a questões existenciais e profundas reflexões. Afinal, ninguém quer ser como Baudouin, mas a maioria não tem um momento de epifania. E a história do personagem nos dá essa chance – não de maneira tão dramática e determinante, mas como uma ideia que vem e vai até, quem sabe, ficar de vez.
Além de toda a questão existencial, Duas vidas explora também a relação entre Baudouin e Luc, diferentes em suas essências, mas iguais em suas origens e valores. A cumplicidade que há entre eles é invejável, e a forma como Luc luta pelos sonhos que Baudouin não tem coragem de realizar é inspiradora. E é por esse caminho que Toulmé foge do estereótipo de “aproveitar a vida” para nos levar a uma reflexão muito mais complexa: o significado de “viver” é subjetivo. Qual é para você?
Título original: Les Deux Vies de Baudoin
Editora: Nemo
Autor: Fabien Toulmé
Avaliação: 5 estrelas
[…] a Gabby Holland, de The Choice) ⠀ O personagem coadjuvante que roubou a cena: Luc Dutil, de Duas Vidas ⠀ O personagem coadjuvante que eu dispenso: Trent Worth, de […]
[…] Duas vidas, Fabien Toulmé Amei a forma como o autor explorou um clichê sem cair no óbvio ou ser pedante! […]