Justine nasceu em 1983 e, desde sempre, soube que era um menino preso em um corpo de menina. Na verdade, ela tinha a certeza de que todos sabiam disso – menos seus pais. Durante a infância e a adolescência, Justine tentou “ser quem deveria”, até encontrar a coragem de se tornar quem sempre foi e abraçar sua verdadeira identidade. E foi assim que nasceu Justin.

Se a transexualidade ainda pode ser considerada um tabu em 2018, imagine em 1983? E acredito que esse seja o ponto de partida de Justin. O protagonista nunca teve dúvidas sobre quem era e como se sentia, mas a sociedade e, pior, seus próprios pais fizeram com que ele lutasse contra sua natureza. Em partes, é difícil colocar 100% da culpa nos pais, já que, naquela época, a ignorância em torno do assunto era absurda. Mas, por outro lado, não temos como defendê-los da negligência – e isso, com certeza, não só existiu, como predominou!

Confesso que achei Justin um pouco superficial e gostaria de ter acompanhado mais da jornada do personagem. Ao mesmo tempo, fica claro que essa era a proposta da obra de Gauthier. E, de qualquer forma, é inegável que, mesmo com poucas páginas e até poucas palavras, a história falou sobre tudo o que era importante: ignorância, negligência, preconceito, bullying, negação e aceitação. Gostei muito da forma como Justin sempre se conheceu e a graphic novel mostra como isso foi fundamental para que ele tivesse coragem de seguir o seu caminho. E não existe mensagem mais poderosa do que essa – seja qual for a sua jornada!

Título original: Justine
Editora: Nemo
Autor: Gauthier
Publicação original: 2013