Desde que li It: A Coisa, em 2015, soube que o livro dificilmente sairia da minha lista de favoritos de todos os tempos. Então, imagina o meu nível de expectativa em relação à adaptação da obra (-prima, na minha opinião) de Stephen King? Foram dois longos anos de espera, mas posso dizer que cada minutinho valeu a pena!
Preciso confessar que nem sempre acreditei que essa versão cinematográfica seria boa coisa. Nunca neguei que a história merecia um remake, já que a minissérie para a televisão, produzida em 1990, é um tanto obsoleta. Mas, no início, não gostei da ideia de separar a nova adaptação em dois filmes, divididos entre passado e presente. Depois de refletir um pouquinho, porém, cheguei à conclusão de que apenas um “capítulo” provavelmente resultaria em uma trama confusa e superficial.
Gostei quando Andy Muschietti foi anunciado como o diretor de It: A Coisa – embora tivesse preferido James Wan (de Invocação do Mal), por exemplo. Mas, ao mesmo tempo, fiquei com receio de que os efeitos especiais deixassem a desejar, como em Mama, curta dirigido por Muschietti que foi transformado em longa posteriormente. No entanto, os primeiros trailers do filme já deram a entender que esse não seria um problema.
Talvez o maior desafio de It: A Coisa fosse escolher o ator que interpretaria o palhaço Pennywise. Na minissérie de 1990, o eleito foi Tim Curry, que soube incorporar as principais características do vilão. Mas acho que queríamos um Pennywise ainda mais perverso desta vez. E, para a missão, o escolhido foi Bill Skarsgård que, desde a primeira vez em que apareceu caracterizado, agradou! No novo filme, Pennywise está menos caricato, mas, justamente por isso, muito mais assustador. Desta vez, fica claro que ele não é um palhaço comum e, sim, A Coisa travestida de palhaço – e que Pennywise é apenas uma das muitas formas como o mal pode se apresentar.
E foi aí que eu comecei a realmente acreditar que, no final das contas, o remake de It seria, sim, coisa boa!
O primeiro grande ponto positivo do filme é a atmosfera. Por mais fiel que uma adaptação seja, pode-se dizer que é impossível (e seria chato e extremamente demorado, hahaha!) recontar todos os detalhes da obra original. Por isso, o mais importante para mim é que a versão cinematográfica de um livro tenha o mesmo clima e a mesma essência. E Muschietti soube não só captar, como também retransmitir toda a atmosfera criada por Stephen King: pesada e sombria, mas também leve e divertida nas horas certas. E o resultado foi um filme de terror impecável com boas doses de comédia e drama (sim, eu confesso que chorei!).
Mas o grande trunfo de It está no elenco. Se Bill Skarsgård é o Pennywise perfeito, os atores mirins são as verdadeiras estrelas – exatamente como deveria ser. Jaeden Lieberher trouxe à tona a sensibilidade e o sofrimento de Bill, que são os verdadeiros responsáveis pela união dos losers; Sophia Lillis tem tanto a força quanto a vulnerabilidade de Beverly; destaque como o Mike de Stranger Things, Finn Wolfhard está deliciosamente irritante como Richie; Jack Dylan Grazer é, para mim, o melhor, na pele do histérico e hipocondríaco Eddie; Jeremy Ray Taylor retrata bem a ingenuidade e a coragem às avessas de Ben; Wyatt Oleff é discreto, mas é um Stan fiel; e Chosen Jacobs, que interpreta Mike, apareceu pouco, mas bem.
No livro, Stephen King traça o perfil psicológico dos sete personagens principais, com todos os defeitos, qualidades, falhas e traumas. E é claro que, em um filme, é difícil reproduzir essa riqueza de detalhes. No entanto, acredito que seja seguro dizer que It foca no que é mais importante e, ainda que indiretamente, mostra a vulnerabilidade de cada um dos protagonistas. Bom, é o suficiente para fazer entender que é exatamente isso o que une os losers e os torna tão fortes.
Não tenho um medo especial de palhaços, mas, quando li It: A Coisa, fiquei com aquela má impressão em várias “cenas”. Afinal, uma das especialidades de Stephen King é criar uma atmosfera pesada e transformar o medo em algo tão sutil quanto brutal. Mas, se tem algo que a nova adaptação não é, é sutil. As cenas de terror são escancaradas, sangrentas e pesadas, dando o toque trash que combina com a história. Ou seja, é também um bom filme para quem gosta de susto pelo susto. Mas o ponto alto é justamente o contraste entre as cenas assustadoras e as partes em que o humor e/ou a emoção dominam. Mais um tiro certo de Muschietti.
A história original se passa entre 1957 e 1958, enquanto os acontecimentos da nova adaptação ocorrem entre 1988 e 1989. Por mais preciosista que eu seja em relação aos livros, vou admitir aqui que essa foi mais uma boa sacada do filme. Afinal, o universo da década de 1980 é quase sempre sinônimo de sucesso e, de alguma forma, combina com a atmosfera nostálgica da história original. Além disso, os anos 80 sempre rendem uma boa trilha sonora – em It, por exemplo, ouvimos bandas como The Cult, The Cure e New Kids on the Block.
Para quem acha que o novo It lembra demais Stranger Things, é importante reforçar que, na verdade, é o contrário. Realmente, as duas histórias têm muitas semelhanças (como pontuei aqui), não só na atmosfera como também na trama – o bullying, os losers, os desaparecimentos e até “A Coisa” em si. Mas também é justo dizer que Matt e Ross Duffer souberam contar uma nova história em Stranger Things, assim como Muschietti foi capaz de reproduzir o universo de It sem deixar de colocar sua própria perspectiva.
Acredito que tenha ficado claro que saí do cinema extremamente contente com o remake de It: A Coisa. Afinal, o filme foi uma experiência resumida e, ao mesmo tempo, intensificada do livro. Levei sustos, ri, chorei e, no final, quis tudo de novo. Assim como durante a leitura, me emocionei com a amizade e a lealdade transmitidas por essa história que, para todos os efeitos, é de terror. E flutuei também… Ah, flutuei de satisfação por ver que um dos meus livros favoritos foi transformado em um filme que também tem tudo para se tornar um dos meus preferidos.
Título original: It
Diretor: Andy Muschietti
Ano: 2017
Minutos: 135
Avaliação: 5 estrelas
[…] no céu – e também com MUITO medo de me decepcionar. Mas, para meu alívio e felicidade, a adaptação de um dos meus livros favoritos tem tudo para se tornar também um dos meus filmes de terror […]
[…] me arrebatar de tal maneira – foi o livro do King com que mais me emocionei, depois de It, a coisa. Talvez porque a história corrobore muito do que penso quando penso sobre o assunto. E com certeza […]