Semana Especial Loney: a influência católica do autor e o folclore

Loney é uma das grandes apostas da Intrínseca para 2016 e, para levar a história de Andrew Michael Hurley ainda mais longe, a editora convidou os blogs parceiros a participar de mais uma Semana Especial (já fizemos de O Regresso e também de Toda luz que não podemos ver).

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Ao lado do Loney, a religião talvez seja a personagem principal da obra de Andrew Michael Hurley. Mais do que um livro de terror ou mistério, Loney é uma história sobre a crença e a subjetividade da fé. Desde o início da trama, fica claro que Esther Smith, a mãe da família, é do tipo católica fervorosa e faz questão de impor seus valores aos filhos e ao marido. Ao mesmo tempo, é evidente que os laços de Smith com a religião, no passado e principalmente no presente, já foram mais fortes.

Ao longo da história, entendemos alguns dos motivos que enfraqueceram a relação de Smith com a religião. Mas muitos permanecem obscuros para o leitor. Coroinha dedicado, o personagem nunca havia contrariado os desejos da mãe, pois realmente acreditava nos ensinamentos do Catolicismo. No entanto, quando passa a conviver com o padre Wilfred, conhece um lado do sacerdote que o leva a questionar, ainda que silenciosamente, os valores da religião.

E é por aí que entramos na minha parte favorita da discussão, que contempla a hipocrisia, a conveniência e a subjetividade inseridas no contexto da crença e da religião. Hurley foi corajoso em fazer com que toda a lealdade do padre Wilfred e da mãe fossem colocadas à prova, devido ao comportamento intransigente e contraditório dos dois.

E é por meio dos dois personagens que a hipocrisia e a conveniência são expostas: enquanto, para a comunidade, é um padre exemplar e de caráter aparentemente irretocável, Wilfred confere tratamento duvidoso aos coroinhas. Antes de sua morte, adota um comportamento estranho e totalmente repreensível enquanto sacerdote. Já a mãe tenta impor seus valores a todos, a qualquer custo, e permite que sua fé na religião rompa as barreiras do que é aceitável. Além disso, enquanto idolatra Wilfred cegamente, julga e pune o padre Bernard de maneira infundada. Ou seja, sempre dois pesos e duas medidas.

Já a subjetividade da fé é meu ponto preferido de Loney. Primeiro porque, pessoalmente, sou mais propensa a acreditar em fé do que em religião (deixando claro que respeito as escolhas de cada um). Segundo porque, para mim, é aí que está a verdadeira beleza da história de Hurley. Assim como é sutil na dose de terror, o autor é comedido também na hora de passar a mensagem central de Loney. Sem dramas ou lições de moral, o livro nos mostra que religião e fé são coisas diferentes. A primeira é sobre “pertencer” e crer enquanto comunidade. Enquanto a segunda é sobre acreditar por si só. E aceitar e proteger Hanny como Smith faz é a maior prova de que, independentemente de religião, a fé deve vir acima de tudo.

selo2016

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