Loney é uma das grandes apostas da Intrínseca para 2016 e, para levar a história de Andrew Michael Hurley ainda mais longe, a editora convidou os blogs parceiros a participar de mais uma Semana Especial (já fizemos de O Regresso e também de Toda luz que não podemos ver).
Loney é uma história rica em personagens tridimensionais e complexos. E todos, sem exceção, apresentam peculiaridades que tornam a trama ainda mais intrigante. Para começo de conversa, nosso interlocutor, Smith, é ao mesmo tempo um homem misterioso e um garoto bondoso, encarregado de cuidar de Hanny, o irmão deficiente. Isso porque, desde o início, fica claro que a história narrada aconteceu há muito tempo, quando ele ainda era apenas um menino. No entanto, o leitor a conhece por meio das lembranças de um Smith adulto e já envelhecido, no tempo presente.
Hanny, por sua vez, sofre de uma misteriosa condição de saúde que o impossibilita de falar e lhe traz dificuldades de aprendizagem. Mas em nenhum momento restam dúvidas de que Hanny entende o que acontece ao seu redor e se comunica à sua própria maneira, apesar de suas limitações. A mãe dos irmãos Smith é, com certeza, a personagem mais irritante de Loney. Religiosa fanática, é intransigente, arrogante, hipócrita e grosseira. No entanto, é peça fundamental da história: primeiro porque, se não fosse sua teimosia e fé cega, voltar ao Loney não seria exatamente uma opção; e, mais importante, porque, muito embora todos os personagens sejam católicos fervorosos, é por meio dela que vemos as incongruências deste tipo de fanatismo.
O pai dos Smith, assim como o casal Belderboss e a Srta. Bunce, são omissos e meros coadjuvantes. Ou seja, nada despertam no leitor. Já os padres Wilfred e seu sucessor, Bernard, são tão intrigantes quanto o restante da história. O primeiro, a princípio, passa a impressão de ser um homem de caráter irretocável. Em um segundo momento, porém, fica claro que Wilfred não é digno de todo o sentimento de idolatria que a comunidade tem por ele. Já o padre Bernard é, ironicamente, o alvo de todo o julgamento e desconfiança infundada da Sra. Smith, o que abre discussões sobre hipocrisia e valores da religião (que será o assunto de amanhã!).
E os personagens excêntricos não acabam por aí. Os proprietários da casa em que o grupo fica hospedado no Loney, assim como os vizinhos em Coldbarrow, apresentam comportamentos estranhos, o que não é mera coincidência. E, ao longo da história, todas as excentricidades da trama e de seus personagens se conectam, mostrando que Hurley não os criou pelo simples prazer de alimentar a curiosidade do leitor.
A relação entre os irmãos Smith
O cuidado e o sentimento de proteção que Smith tem para com Hanny chegam a ser comoventes. E mais do que apenas cuidar do irmão, Smith faz o que pode para entendê-lo e aceitá-lo da forma como é – o que é um comportamento completamente oposto ao da mãe.
Conforme avançamos na história, porém, fica evidente que a profunda relação entre os irmãos não é mero detalhe ou uma forma de tornar Loney mais “caloroso” ou humano. A maneira como Smith protege Hanny com tudo o que tem explica os rumos da trama e, mais do que isso, é a representação da subjetividade da fé, da lealdade e também do amor.
[…] bastante sobre o terror psicológico, a atmosfera, a relação entre os irmãos e a influência da religião de Loney nos posts da Semana Especial dedicada ao livro, proposta […]