Juntos há mais de 20 anos, Jodi e Todd parecem ter encontrado a dinâmica perfeita para que o casamento desse certo: ele tem o espaço que precisa, enquanto ela fecha os olhos para aquilo que a incomoda. E assim a vida dos dois segue, até o dia em que Jodi descobre que Todd terá um filho com a jovem Natasha Kovacs. A princípio, Jodi fica sem reação, mas, aos poucos, todos os anos de mágoas e ressentimentos vêm à tona de uma maneira que será irremediável.

Não é novidade que me interesso por histórias que retratam relacionamentos doentios. Então, querer ler A Mulher Silenciosa foi automático. A trama é fluida e envolvente desde o início, mas as primeiras 50 páginas têm o papel de contextualizar o enredo para o leitor. O que não é um ponto negativo neste caso e acaba aumentando a curiosidade e a expectativa sobre o que vem a seguir.

Muitos comparam A Mulher Silenciosa a Garota Exemplar, de Gillian Flynn. No entanto, apesar de ver semelhanças entre os dois livros, também enxergo algumas diferenças que fazem com que as duas obras não possam ser colocadas “no mesmo saco”. Enquanto Gillian Flynn disseca a relação entre homem e mulher, A. S. A. Harrison foca muito nos personagens – e especialmente em Jodi – individualmente. E mais do que um  thriller psicológico ou uma história sobre um casal desequilibrado, A Mulher Silenciosa apresenta um riquíssimo background respaldado pela psicologia.

A história é narrada por Jodi e Todd em capítulos alternados e, muito embora seja permeada por absurdos, tem um ritmo crescente, especialmente no final. Gostei bastante de como A. S. A. Harrison aborda o papel e o comportamento esperados das mulheres de maneira indireta e retrata o quanto os dilemas morais são subjetivos. E apesar de sabermos mais ou menos o que irá acontecer desde o início, A. S. A. Harrison consegue surpreender o leitor com reviravoltas regadas a muita ironia e sarcasmo.

Título original: The Silent Wife
Editora: Intrínseca
Autor: A. S. A. Harrison
Publicação original: 2013