Vinte anos após os acontecimentos de O Sol é para todos, Jean Louise Finch – a Scout – está morando em Nova York e volta à sua cidade natal para visitar o pai, Atticus. No entanto, o que prometia ser um agradável reencontro com a família e os amigos se torna uma decepção quando Jean Louise descobre, em meio aos debates sobre segregação racial, que a comunidade que a criou não é exatamente o que ela pensava ser.
Nunca fui a favor de Vá, coloque um vigia e, por um bom tempo, relutei em lê-lo. Mas, no final das contas, a curiosidade falou mais alto do que o medo e acabei me rendendo. E, como já era esperado, não gostei do que li. O livro começa com uma espécie de transição entre a Scout que conhecemos em O Sol é para todos e a Jean Louise que iremos conhecer em Vá, coloque um vigia, por meio de lembranças da infância e da adolescência da personagem. O que seria natural e esperado, se não se estendesse pelas 100 primeiras páginas, fazendo com que a trama pareça não ter propósito.
Quando a história finalmente começa a se desenrolar, nos deparamos com uma Jean Louise que é completamente o oposto de Scout: arrogante, intransigente, egocêntrica e nada carismática. Ou seja, um dos maiores – se não o maior – trunfos de O Sol é para todos simplesmente deixa de existir neste segundo livro. De certa forma, a personagem tem o direito de se sentir decepcionada e até traída – embora ache que a segunda seja uma palavra muito forte. No entanto, Jean Louise se tornou tão, mas tão desagradável, que é praticamente impossível se conectar a ela do ponto de vista emocional e “comprar” sua briga. Ainda mais porque Atticus, o “vilão” da história, ainda é o personagem sereno e envolvente que conhecemos no primeiro livro.
Sei que O Sol é para todos retrata uma situação utópica, enquanto Vá, coloque um vigia narra uma realidade 100% possível. No entanto, o primeiro livro parecia ter sido escrito justamente para se tornar válvula de escape para tantas injustiças que acontecem no mundo, especialmente as motivadas pelo racismo. E o que eu me pergunto: por que destruir esse sopro de esperança, desmistificando Atticus Finch e transformando Jean Louise em uma personagem intragável?
Sim, o senso de humor apurado de Vá, coloque um vigia é inegável, assim como a contextualização histórica é irretocável. Mas, para mim, também é indiscutível que o mundo da literatura estaria melhor se ele simplesmente não existisse.
Volume anterior: O Sol é para todos
Autor: Harper Lee
Publicação original: 2015
Caramba, fiquei surpresa com a sua resenha!
Tem continuações realmente desnecessárias… EU amo Doutor Sono, mas ficaria bem sem ele.
Eu já sabia que não ia gostar, mas achei que poderia “desgostar” menos, hahaha!
Vou ler Doutor Sono em breve. Espero não odiar!
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