[OFF] Meu tributo a Scott Weiland

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Scott Weiland em 1993

Às 5h36 da última sexta-feira, 04 de dezembro, eu soube como é perder um ídolo. E descobri que, além de extremamente triste, é também uma experiência muito estranha quando você percebe que perdeu o sono e está chorando por uma pessoa que sequer sabia da sua existência. E mesmo assim, mudou seu mundo, compartilhou suas angústias, aplacou seus medos e o fez entender que tudo bem não estar sempre bem. Porque você não é o único.

Nós sabemos que aquilo que nos transformou em fãs de uma banda ou artista – a música – é o que fica, que as palavras são eternas e imutáveis. No entanto, é difícil aceitar que nunca mais haverá canções novas, shows ao vivo e entrevistas. Que a voz, por mais eternizada que tenha sido, se calou para sempre. E que, no caso do Scott, não haverá mais chances para um final melhor, um final feliz.

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Scott Weiland em 1996

Alguns, inclusive Mary Forsberg, a segunda ex-mulher do Scott, disseram que ele já havia “morrido” antes mesmo do último dia 03 de dezembro. E eu não discordo. Scott ainda era um frontman acima da média, no entanto, realmente se tornou difícil ver as apresentações recentes e tentar escutar a mesma voz de shows antigos, antes tão impecável e inesquecível, e enxergar o mesmo homem enérgico e radiante, que dominava qualquer palco em que subia. Que dançava como se ninguém estivesse olhando, justamente por saber que todos o faziam. Mas eu preferia tentar encontrá-lo nessa sombra para sempre do que saber que tudo isso simplesmente não existe mais. Acabou.

Scott era único, mas, ironicamente, dentro de toda a sua peculiaridade, existia uma versatilidade absurda, que permitia que ele fosse um e muitos ao mesmo tempo. E foi essa versatilidade, tanto da voz e das referências musicais, quanto da capacidade de mudar a aparência, que se tornou sua marca registrada. No entanto, sempre foi possível reconhecê-lo por duas características irremediavelmente imutáveis: os olhos, pequenos, profundamente azuis e ligeiramente tristes, e uma nuance em sua voz, que era mais do que a extensão vocal ou qualquer aspecto técnico. Eram a alma e a verdade, que deixaram de ser apenas suas para se tornarem as de muitos.

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Scott Weiland em 1999

Muitos sempre o definiram como um rockstar típico: difícil, porém cativante, agressivo, mas sensível; uma alma perturbada que transformou suas angústias em arte. E que, infelizmente, acabou como muitos “previram”. Scott sempre foi problemático e isso nunca foi segredo. Afinal, ele dividiu seus tormentos com o mundo, fosse por meio da música, dos escândalos ou de sua autobiografia, Not dead and not for sale, publicada em 2011. De certa forma, ele sempre enxergou “romance e sensualidade” no sofrimento e, se não fosse por isso, talvez tivesse se permitido encontrar a paz – ainda que lhe custasse a inspiração.

Em sua autobiografia, Scott diz que seu objetivo é “permanecer inspirado e inspirar outros” e “deixar a marca de uma pessoa apaixonadamente interessada em expressar sua alma”. Sua história terminou, Scott. E, nossa, como eu lamento por isso e por sua inspiração e arte terem, talvez, custado sua paz e felicidade. Mas fique tranquilo porque a sua missão foi cumprida e o seu legado, como tudo o que marca não só o mundo, como a alma das pessoas, é imutável, inesquecível e para sempre.

AS 10 MÚSICAS ESSENCIAIS DE SCOTT WEILAND

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Scott Weiland em 2004

Plush (Stone Temple Pilots, álbum Core, 1992)
É inevitável que Plush abra a lista, já que, além de ter marcado a carreira de Scott Weiland e apresentado o Stone Temple Pilots ao mundo, a faixa é também um clássico da música dos anos 1990.

Interstate Love Song (Stone Temple Pilots, álbum Purple, 1993)
Interstave Love Song é outro clichê desta lista, mas também seria impossível não citá-la. Para escrever a faixa, Scott se inspirou na relação à longa distância e repleta de ruídos com Jannina, sua primeira esposa.

Trippin’ on a hole in a paper heart (Stone Temple Pilots, álbum Tiny Music… Songs from the Vatican Gift Shop, 1996)
Trippin’ on a hole in a paper heart é com certeza uma das músicas que Scott escreveu pensando em si mesmo – tanto é que o trecho “I’m not dead and I’m not for sale” deu título à sua autobiografia, publicada em 2011.

Atlanta (Stone Temple Pilots, álbum Nº4, 1999)
Assim como Sour Girl, o single mais bem-sucedido de Nº4Atlanta foge da vibe pesada e agressiva do álbum e mostra mais uma vez a versatilidade vocal de Scott Weiland.

Divider (Scott Weiland, álbum 12 Bar Blues, 1998)
Divider segue a sonoridade “metálica” do primeiro trabalho solo de Scott Weiland, mas também mostra o lado sofisticado e romântico, mas ainda sexy, do cantor.

Wonderful (Stone Temple Pilots, álbum Shangri-La Dee Da, 2001)
Embora conte com a divertida Days of the week e a ácida Hollywood Bitch, Shangri-La Dee Da é um álbum bastante sombrio e intimista. E Wonderful é apenas uma das várias canções mais reflexivas do álbum e que o próprio Scott definiu como “me dreaming about my death”.

Fall to pieces (Velvet Revolver, álbum Contraband, 2004)
Fall to pieces foi o segundo single do álbum de estreia do Velvet Revolver e é fácil reconhecer a história de Scott Weiland e Mary, sua segunda esposa, na letra.

The Last Fight (Velvet Revolver, álbum Libertad, 2007)
As músicas de Libertad foram escritas em uma das muitas fases complicadas pelas quais Scott passou. Na época, o cantor havia perdido o irmão Michael e estava se divorciando de Mary. Como sempre, as letras têm muito das experiências e do momento de Scott e The Last Fight talvez seja a que melhor resume essa fase difícil.

Tangle with your mind (Scott Weiland, álbum Happy in Galoshes, 2008)
Em seu segundo projeto solo, Scott deixou o ar psicodélico um pouco de lado e apostou em uma sonoridade mais leve e romântica. E Tangle with your mind traduz bem essa vibe.

Killing me sweetly (Scott Weiland, álbum Happy in Galoshes, 2008)
Mais uma faixa super romântica de Happy in Galoshes, Killing me sweetly tem letra e melodia inesquecíveis e que, mais uma vez, mostram o lado calmo e sensível de um rockstar como Scott Weiland.

10 COVERS DE SCOTT WEILAND

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Scott Weiland em 2008

Covers costumam gerar polêmicas e dividir opiniões, mas Scott Weiland sempre foi audacioso e emprestou sua voz a muitas canções clássicas e de grandes nomes da música. E graças à versatilidade vocal, ele sempre foi capaz de se manter fiel à essência das faixas e mesmo assim imprimir seu estilo pessoal. Aqui, algumas ótimas músicas que tivemos o prazer de ouvir na voz do Scott:

Angry Chair, Alice in Chains: a voz de Layne Staley era inconfundível e inimitável, mas Scott fez um bom trabalho ao cantar um dos clássicos da banda.

Break on through, The Doors: Jim Morrison sempre foi uma das principais inspirações de Scott, que fez jus à voz única e marcante do vocalista do The Doors.

Dancing Days, Led Zeppelin: diferente dos covers de Angry Chair e Break on through, que foram apresentados em parceria com o Alice in Chains e The Doors, respectivamente, Dancing Days foi um cover feito pelo Stone Temple Pilots durante um show e, por isso, conta com o toque especial da banda.

Fame, David Bowie: David Bowie talvez tenha sido o maior ídolo de Scott, que nunca escondeu sua admiração e incorporou o estilo de Bowie em canções próprias, como First Kiss on Mars. Em seu primeiro trabalho solo, Scott fez um cover bastante fiel de Fame.

Have Yourself a Merry Little Christmas, Judy Garland: em mais uma prova de sua versatilidade, Scott surpreendeu e gravou um álbum só de músicas de Natal (The Most Wonderful Time of the Year, 2011). A clássica Have Yourself a Merry Little Christmas é uma das faixas do CD e, por mais incrível que pareça, ficou maravilhosa.

Patience, Guns N’ Roses: assim como fazia covers de STP, o Velvet Revolver também apresentava canções do Gun N’ Roses durante os shows – o que sempre considerei corajoso, já que os vocais de Axl Rose também são bastante peculiares. Como não sou fã da ex-banda de Slash, sempre achei as versões de Scott bem satisfatórias – e mais um exemplo da habilidade dele de “imitar” o artista homenageado – e a única forma de eu escutar Guns.

Psycho Killer, Talking Heads: se a Psycho Killer original tem uma vibe mais alternativa, a do Velvet Revolver foi completamente adaptada ao Hard Rock e, na minha opinião, com sucesso.

Reel Around the Fountain, The Smiths: outro cover difícil de fazer, já que Morrissey também é dono de uma voz única e inconfundível. E, de novo, Scott agrada ao não ter a intenção de inovar, apenas homenagear.

Revolution, The Beatles: não me considero fã fã fã de Beatles, mas sou MUITO chata com covers dos garotos de Liverpool. Mas o Scott, junto com o Stone Temple Pilots, conseguiu apresentar uma versão que me agradou, justamente por ser bastante fiel.

Wish you were here, Pink Floyd: mais um cover super corajoso, já que se trata de uma música super clássica e de uma super banda.

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How is the rent like in heaven? (Scott Weiland em 2015, em foto divulgada postumamente por Jamie, sua esposa)

E depois disso tudo, só tenho uma coisa a dizer: obrigada <3

*Coincidentemente, hoje, dia 10 de dezembro, faz 5 anos que fui ao primeiro show do Stone Temple Pilots no Brasil :’)

6 comments

  1. Eu não tinha chorado até então, mas depois de ler tudo isso, uma lagriminha escorreu. Porque deve ser muito triste ser inspirado pela sua tristeza, pelos seus problemas, até que não dá mais. ;'(
    Adorei a homenagem e morri de tristeza porque nunca vou poder dizer que o vi snif
    Beijo

    • Sim, deve ser muito difícil “se alimentar”, de alguma forma, das suas tristezas. Mas tento pensar que pessoas assim são necessárias para “salvar” outras, sabe? E acho que devemos ser gratos por isso e aproveitar que o legado é eterno <3

  2. Já falamos MIL VEZES, mas ainda é muito difícil conceber como as coisas acontecem de forma inesperada e como a morte de ídolos funciona de maneiras diferentes dependendo se ela ocorre antes ou depois de a gente conhecê-los. E música é tão particular, né? Pelo menos você teve a oportunidade de prestigiá-lo de todas as formas possíveis <3 Lindo tributo e ótima seleção musical para os iniciantes ou nem tanto terem como se guiar sobre os melhores trabalhos dele :D

    Beijos, Ná!!

    • É “engraçado” como se parece muito com perder alguém do seu convívio diário, apesar das proporções, claro. Eu sempre “esqueço” que ele morreu e daí lembro e fico triste de novo. Ou vejo um vídeo/escuto uma música e penso “poxa, isso tudo não existe mais”. É difícil mesmo conceber e, ainda mais, como você disse, por eu tê-lo visto ao vivo e tê-lo prestigiado de várias maneiras. Mas fazer o quê, né? A gente sempre paga o preço pelas coisas que a gente faz ou deixa de fazer. E ao mesmo tempo em que viver uma vida cheia de angústia e deixar o mundo cedo foi o preço do Scott, ter sua obra apreciada e valorizada também foi <3

  3. Desde o acontecido eu tenho tentando expressar em palavras o que eu sinto e o quanto o Scott e sua música foram importantes pra mim, mas não consigo. Mas acho que vc fez isso por mim. Post maravilhoso. Muito obrigado.

    • Poxa, fico feliz, de verdade :) E eu que agradeço!
      O Scott apareceu na minha vida no momento certo e eu não conseguiria deixar de expressar minha gratidão por aqui. Espero que ele esteja em paz agora e o que nos resta é continuar prestigiando e propagando o legado dele <3

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