Resenha de O Sol é para todos – Harper Lee

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No início da década de 1930, Scout e Jem vivem uma infância tranquila em Maycomb, no Alabama, onde moram com o pai, o advogado Atticus Finch. No entanto, a calmaria dá lugar à hostilidade, quando Atticus decide defender Tom Robinson, um homem negro acusado de estupro, em uma época em que a segregação racial ganhava cada vez mais força. Apesar de serem brancos e desfrutarem de uma situação relativamente confortável, mesmo em meio à Grande Depressão, Scout e Jem não concordam com o comportamento preconceituoso de seus vizinhos e conhecidos e não entendem por que os negros não podem ter as mesmas oportunidades que os brancos.

Não é à toa que O Sol é para todos é considerado um clássico: ao narrar a história sob o ponto de vista de Scout, que começa o livro com apenas 7 anos, Harper Lee foi capaz de criar uma obra muito democrática e sensível, além de atemporal, já que o racismo, infelizmente, é um tema que nunca deixou de ser atual. Com a ingenuidade típica das crianças e o atrevimento que só os grandes contestadores possuem, Scout é cativante, ensina muitas lições e provoca grandes reflexões no leitor, sempre respaldada por Jem e Atticus.

Queria que você a conhecesse um pouco, soubesse o que é a verdadeira coragem, em vez de pensar que coragem é um homem com uma arma na mão.

Você só consegue entender uma pessoa de verdade quando vê as coisas do ponto de vista dela.

Quando um livro é considerado clássico, além de um dos mais importantes e influentes de uma época, é automático imaginar – pelo menos para mim – que a leitura será densa ou até difícil. No entanto, no caso de O Sol é para todos, não é o que acontece, já que a escrita de Harper Lee é fluida, simples e infantil de uma maneira positiva. E olha que a segregação racial não é o único tema delicado explorado pela obra: por meio do jeito “moleca” de Scout e, portanto, “fora dos padrões femininos”, a autora aborda também o papel que a sociedade espera que as mulheres desempenhem e que, assim como o preconceito, é até hoje – e cada vez mais – tema de discussões acaloradas.

Olha, Jem, eu acho que só existe um tipo de gente: gente.

Com um ritmo envolvente e reviravoltas realmente inesperadasO Sol é para todos consegue ser de uma pureza única, ao mesmo tempo em que mostra a crueldade que existe não apenas no ato de julgar, discriminar e segregar, mas no ser humano em geral. E é exatamente a inocência pueril incorporada por Harper Lee que faz com o que o leitor deixe a “sabedoria”, que muitas vezes pode ser arrogante, de lado e volte a enxergar as injustiças como os verdadeiros absurdos inexplicáveis que são.

Respondi que achava muito bom, o que era mentira, mas às vezes precisamos mentir em determinadas circunstâncias, especialmente quando não podemos fazer nada.

Antes de ser um livro sobre racismo e segregação racial, O Sol é para todos fala sobre a importância da empatia, de se colocar no lugar do outro nem que seja por um minuto, que é exatamente o que falta quando qualquer tipo de preconceito ganha espaço. E, assim, com a grande contribuição de Atticus Finch, Harper Lee nos mostra que o heroísmo e a coragem nada têm a ver com força física e reconhecimento: muitas vezes, tem a ver com encarar batalhas invisíveis.

Título original: To Kill a Mockingbird
Editora: José Olympio
Volume seguinte: Vá, coloque um vigia
Autor: Harper Lee
Publicação original: 1960

*Em 1962, O Sol é para todos foi adaptado ao cinema, com Gregory Peck como Atticus Finch. No ano seguinte, o longa concorreu em oito categorias do Oscar e faturou as estatuetas de Melhor Ator, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Direção de Arte.

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16 comments

  1. Meu livro ninguém sai!!!!
    Não sei porque demorei tanto para ler esse livro pra depois ser só amores!
    Melhores personagens: Scout e o Atticus! Os diálogos dos dois são tão bem estruturados e ao mesmo tempo leve e pesado que te dá até aquele aperto no coração.
    Melhor clássico americano, e olha que nem li outros… hauahuahauhau
    E por favor, 5 estrelas, arruma isso aí! :P
    Um beijo!

  2. […] O Sol é para todos (1962), escrito por Harper Lee e dirigido por Robert Mulligan O Sol é para todos é uma das obras mais icônicas da literatura (pelo menos do século 20) e sua adaptação cinematográfica não ficou atrás. O longa concorreu a nada menos do que oito estatuetas, incluindo Melhor Filme e Melhor Direção, e faturou três – Melhor Ator, com Gregory Peck, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Direção de Arte em P&B. […]

  3. […] O Sol é para todos (1962), escrito por Harper Lee e dirigido por Robert Mulligan O Sol é para todos é uma das obras mais icônicas da literatura (pelo menos do século 20) e sua adaptação cinematográfica não ficou atrás. O longa concorreu a nada menos do que oito estatuetas, incluindo Melhor Filme e Melhor Direção, e faturou três – Melhor Ator, com Gregory Peck, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Direção de Arte em P&B. […]

  4. […] O Sol é para todos, Harper Lee No início da década de 1930, Scout e Jem vivem uma infância tranquila em Maycomb, no Alabama, onde moram com o pai, o advogado Atticus Finch. No entanto, a calmaria dá lugar à hostilidade, quando Atticus decide defender Tom Robinson, um negro acusado de estupro, em uma época em que a segregação racial ganhava cada vez mais força. Apesar de serem brancos e desfrutarem de uma situação relativamente confortável, mesmo em meio à Grande Depressão, Scout e Jem não concordam com o comportamento preconceituoso de seus vizinhos e conhecidos e não entendem por que os negros não podem ter as mesmas oportunidades que os brancos. […]

  5. […] O Sol é para todos, Harper Lee (premiado em 1961) No início da década de 1930, Scout e Jem vivem uma infância tranquila em Maycomb, no Alabama, onde moram com o pai, o advogado Atticus Finch. No entanto, a calmaria dá lugar à hostilidade, quando Atticus decide defender Tom Robinson, um negro acusado de estupro, em uma época em que a segregação racial ganhava cada vez mais força. Apesar de serem brancos e desfrutarem de uma situação relativamente confortável, mesmo em meio à Grande Depressão, Scout e Jem não concordam com o comportamento preconceituoso de seus vizinhos e conhecidos e não entendem por que os negros não podem ter as mesmas oportunidades que os brancos. […]

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