A vida de Maxwell Sim está longe de ser agradável: abandonado pela mulher e pela filha e sem conseguir se relacionar com o pai, está mergulhado na depressão e, apesar de ter mais de 70 amigos no Facebook, percebe que não tem com quem conversar e dividir os problemas. É quando surge uma nova oportunidade de trabalho, que exigirá que Maxwell passe uma semana na estrada, dirigindo de Londres até Shetland. Ele aceita a proposta e encara a viagem como uma forma de entrar em contato com si mesmo, revisitar o passado e, quem sabe, colocar algumas coisas nos eixos.
A Terrível Intimidade de Maxwell Sim retrata a solidão de forma triste e depreciativa, porém amenizada por doses de ironia e sarcasmo. No entanto, a grande sacada da obra de Jonathan Coe é o paradoxo entre a companhia constante, porém superficial, em que vivemos hoje em dia, com as redes sociais e outros aparatos tecnológicos, que nos faz sentir vigiados e, ao mesmo tempo, não apenas sozinhos, mas solitários.
Quanto mais velho a gente fica, mais algumas amizades começam a parecer redundantes. A gente se pega perguntando: ‘Pra quê?’ E aí deixa pra lá.
As características de Maxwell Sim, a busca por reencontrar a si mesmo, o estilo da escrita, a forma de desenvolver a trama, além do fato de a história se passar na Inglaterra, me lembraram bastante de David Nicholls (autor de Um Dia), especialmente em O Substituto. No entanto, confesso que, apesar de gostar da trama, não posso dizer que foi uma leitura fluida. Empaquei em alguns momentos e precisei de paciência para que a história engrenasse.
A gente sempre espera que aquelas experiências decisivas e mais preciosas da vida permaneçam indelevelmente marcadas na memória; e no entanto, por alguma razão, invariavelmente elas parecem ser as primeiras a embaçar e se apagar.
Como a ideia de Maxwell é revisitar o passado, segredos e surpresas (ora apenas para o leitor, ora para o protagonista também) permeiam toda a história, tornando-a mais rica, tridimensional e interessante. O desfecho é inusitado e bastante surpreendente, mas admito que, até agora, ainda não decidi se gostei ou não, se achei adequado ou não. De qualquer forma, a leitura vale a pena e nos faz refletir sobre como as redes sociais e a tecnologia em geral transformaram, e provavelmente continuarão transformando, a percepção e o comportamento humanos.
Título original: The Terrible Privacy of Maxwell Sim
Editora: Record
Autor: Jonathan Coe
Publicação original: 2010
[…] Lugares Incríveis, de Jennifer Niven; Um livro de um autor que você nunca leu antes, com A Terrível Intimidade de Maxwell Sim, de Jonathan Coe; e Um livro que foi escrito originalmente em outra língua, com Eu sou o […]