Resenha de Cartas de amor aos mortos – Ava Dellaira

Mais do que irmã e amiga, May era a grande inspiração e exemplo para Laurel. Por isso, quando ela morreu, cercada de mistérios, Laurel perdeu o chão. O fato de a mãe das duas não conseguir lidar com o que aconteceu e se mudar para outra cidade também não ajuda Laurel, que passa a se dividir entre a casa do pai, também sem rumo e destruído, e a tia Amy. Por uma chance de recomeçar, ela decide mudar de escola, onde ninguém a conhece e sabe o que aconteceu a May. Lá, Laurel faz amigos de verdade e conhece o misterioso Sky, mas não conseguir fugir daquilo que realmente importa.

Como o próprio título diz, Laurel escreve para os mortos, mas não para anônimosKurt Cobain, Jim Morrison, Amy Winehouse, River Phoenix e Judy Garland são algumas das personalidades que “recebem” as cartas da protagonista. E, ao que tudo indica, os nomes foram escolhidos a dedo porque os eleitos por Laurel não têm em comum apenas o fato de já terem deixado este mundo: todos tiveram mortes misteriosas, foram consideradas pessoas problemáticas, se suicidaram e/ou partiram cedo demais.

Em Cartas de amor aos mortos, Ava Dellaira aborda temas delicados, como homossexualidade, divórcio e abuso sexual, de forma natural e livre de preconceitos, o que automaticamente me lembrou de David Levithan, especialmente em Todo Dia. Já a narrativa epistolar e a forma direta e, muitas vezes, dolorosa com que Laurel se expressa me remeteram a As Vantagens de Ser Invisível, de Stephen Chbosky. Ava também conseguiu criar personagens secundários, como Hannah e Tristan, que enriquecem a história e tornam possível a exploração de outras temáticas.

Se quisermos que alguém nos conheça, precisamos nos revelar a essa pessoa.

Embora prolongado por quase todo o livro, o mistério sobre o que realmente aconteceu quando May morreu não é cansativo e faz todo sentido, já que respeita o fato de que Laurel não quer relembrar aquela noite por se sentir culpada por como tudo terminou. E assim, a autora evidencia que May é uma ideia perfeita e inabalável na cabeça de Laurel, que se recusa a “humanizar” a irmã, já que isso implicaria em reconhecer que ela também tem defeitos, pode ter errado e não é apenas uma vítima de um destino cruel e injusto.

Sabe por que se apaixonar é o que pode acontecer de mais profundo com uma pessoa? Porque quando estamos apaixonados, estamos totalmente em perigo e completamente salvos, os dois ao mesmo tempo.

E é exatamente aí que escrever para famosos faz todo o sentido em uma sacada super inteligente. Porque as celebridades são pessoas sobre quem podemos saber tudo e, ao mesmo tempo, nada. São pessoas que podemos pensar que conhecemos e, na verdade, não saber quem realmente são. São apenas ideias e não realidades. E é isso tudo o que May era para Laurel: um ídolo indestrutível e não uma pessoa real, com qualidades, medos e, sim, uma infinidade de defeitos. E esta é provavelmente a maior conexão que a protagonista encontrou entre a irmã e os famosos mortos e é por isso que, ao “falar” com eles, ela consegue também “conversar” com May. Porque Laurel sabe tudo sobre todas celebridades para quem escreve, já que cita diversos fatos sobre a história de cada um, mas muitas coisas, as mais importantes, não passam de suposições, assim como acontece em relação à irmã.

Porque, quando você fala em beleza, não está falando de algo bonito, está falando de algo que nos torna humanos.

O desfecho de Cartas de amor aos mortos é suave e brutal, além de muito emocionante. Não é forçado porque a obra de Ava Dellaira literalmente acompanha a evolução de Laurel e a forma como ela encara a ausência de May e a história que tiveram juntas. Cartas de amor aos mortos é um livro não apenas sincero, mas também honesto e que quem já perdeu alguém importante nessa vida precisa ler.

Título original: Love Letters to the Dead
Editora: Seguinte
Autor: Ava Dellaira
Publicação original: 2014

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17 comments

  1. :'(
    Essa sou dps de ler!
    PQP q livro!! Cara, acho q nunca senti tanto com um livro como qnto tinha sentido com As vantagens de ser invisível.
    Livro recheado de quotes, as escolhas das personalidades para quem escrever, a temática, a forma como foi tratado, simplesmente foda!
    Td tratado com uma simplicidade, mas ao mesmo tempo denso faz com q fique mais forte ainda…
    Enfim, um dos melhores do ano.

    Bjo

  2. […] 8. Um livro de ficção vs. Um livro de não-ficção Não li muitos livros de não-ficção, mas um dos meus favoritos de todos os tempos é justamente desse gênero: A Sangue Frio, de Truman Capote. É difícil escolher um de ficção porque são muitos, mas fico com o ótimo Cartas de amor aos mortos. […]

  3. […] Cartas de amor aos mortos, Ava Dellaira: assim que vi o título, soube que teria que ler este livro. Para minha felicidade, a obra de Ava Dellaira foi ainda melhor do que eu imaginava e me fez lembrar bastante do também ótimo As Vantagens de Ser Invisível, de Stephen Chbosky. […]

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