Resenha de Não sei como ela consegue – Allison Pearson

Katherine Reddy, ou simplesmente Kate, é casada, tem 35 anos, dois filhos e trabalha como gerente de fundos de investimento. Competentíssima, ela foi a primeira mulher a se tornar gerente da Edwin Morgan Forster, mas seu sucesso profissional interfere diretamente na qualidade de vida da sua família. Sem tempo para cuidar dos filhos, do marido e até de si mesma, Kate vive em meio ao caos: precisa ficar 24 horas por dia de olho nos altos e baixos do mercado financeiro e sua agenda é cheia de reuniões inadiáveis e viagens a trabalho.

Ainda assim, ela consegue manter a casa em pleno funcionamento e nunca deixa faltar nada para seus filhos – exceto sua companhia. Mas a rotina atribulada só faz com que Kate se cobre ainda mais e se ache ruim em tudo o que faz – e principalmente no que não faz. O resultado dessa vida dupla é um conflito que sempre bate à sua porta: será que deixar de trabalhar é a mesmo melhor saída, ainda mais para uma mulher independente e workaholic?

Acredito que Kate seja um retrato bem realista de muitas mulheres hoje em dia. Mulheres que são mães e esposas e que não apenas trabalham fora, como também são profissionais indispensáveis em suas empresas, além de peças fundamentais no quebra-cabeça de suas casas. E, em meio a essa confusão, chamada rotina, fazem de tudo e mais um pouco, mas sempre sentem que não fazem o suficiente. Se cobram e, por melhores que sejam, ainda se sentem medíocres. Acho que só quem é mãe realmente sabe o quanto dói sentir que um filho precisa de mais do que o que você pode dar –  mesmo que essa não seja bem a verdade. Bom, eu não tenho filhos, mas digo isso porque senti que Allison Pearson conseguiu transmitir as angústias e delícias de ser mãe.

Antigamente, as mulheres tinham tempo para fazer tortinhas, mas fingiam orgasmos. Hoje,  nós conseguimos ter orgasmos, mas fingimos que somos ‘as boas’ na cozinha.

Apesar de ter achado o subtítulo do livro (“Uma comédia sobre o fracasso, uma tragédia sobre o sucesso”) um pouco pedante, confesso que ele descreve exatamente o que a história é: o tipo da coisa que consegue ser engraçada e triste ao mesmo tempo. Mas também achei a obra sensível sem ser piegas e, repito, muitíssimo realista. Kate é uma mulher inteligentíssima e divertida que, apesar de já muito desgastada pela vida corrida, não se permite perder o senso de humor diante das dificuldades – ainda que isso resulte em uma mulher sarcástica e até amarga algumas vezes.

Ao ler Não sei como ela consegue, eu tive a certeza, mais uma vez, que ter filhos realmente é muito desgastante, mas que as recompensas valem a pena. Outra mensagem passada pelo livro é aquela velha premissa de que tudo tem seu tempo. Kate sabe qual a solução para os seus problemas, mas não está pronta para tomar uma decisão e, muito menos, assumir seus riscos – embora isso pareça muito mais fácil do que levar sua atual rotina.

Além disso, ela também está em um momento de exploração pessoal, de saber onde está o meio termo entre o que ela quer e o que os seus filhos precisam. Kate passa por muitas provações, que fazem com que ela, de fato, perceba o que está fazendo de errado ou certo. A questão é que ela sabe que chegou a hora em que não deve ceder mais do que já cede e abrir mão de certas coisas por outro motivo que não suas próprias vontades e verdades.

Ela foi a única pessoa que nunca disse: eu não sei como você consegue. Ela sabia como eu conseguia e ela sabia o quanto isso custava.

Por alguma razão misteriosa, levei longos 14 dias para ler as 396 páginas de Não sei como ela consegue. Mas o livro é ótimo e, apesar da minha demora, a leitura é fácil, leve e uma delícia. Com altas doses de humor, a obra de Allison Pearson é também emocionante e realmente faz refletir sobre o que, de fato, vale a pena.

Título original: I don’t know how she does it
Editora: Rocco
Autor: Allison Pearson
Publicação original: 2004

2 comments

  1. […] Não sei como ela consegue, Alisson Pearson Não sei como ela consegue é o livro perfeito para as mães que tentam conciliar a os filhos, a vida a dois e uma carreira bem-sucedida e são consumidas pela sensação de nunca conseguir fazer nada com perfeição. Não sou mãe, mas, como mulher, me senti redimida pelo livro de Allison Pearson e a forma como ela conforta as mães modernas. […]

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